quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Música Caipira - Surge um Rei. (Republicação)

A música sertaneja é monarquista, e por isso teve um Rei.

Vossa Majestade atendia pelo nome de José Dias Nunes, mais conhecido como Tião Carreiro.

Talvez o melhor expoente da moda de viola em nosso país.

Muitos seguiram, poucos tiveram seu talento e carisma, nenhum terá tantos admiradores.

Tião Carreiro está pra música sertaneja assim como Elvis para o Rock, e numa comparação que seria esdrúxula não fosse, com um pouco de raciocínio, lógica: É o nosso Jimmy Hendrix do Sertão.

Violeiro primoroso, como só o Estado de Minas Gerais sabe presentear ao mundo, criado na região de Araçatuba, seria mais um menino pobre, de vida difícil nas lavoras e pastagens da região, não tivesse feito de sua música, seu passaporte para o estrelato.

Após saracotear com várias duplas, firmou com Pardinho uma dupla à beira da perfeição. 

Não fosse a conhecida "rusga" que vez em quando insistia em separá-los, muito mais teriam dado ao mundo, além do muito que deixaram como legado.

Cantaram de costas um para o outro em várias oportunidades, gravavam músicas separado, separaram várias vezes e em cada uma delas, Tião, segundo sua esposa, chorava em casa a falta do amigo.

O violeiro tinha sentimentos.

Mas seu gênio bonachão e folgazão, arquétipo do violeiro que canta por prazer, não importa onde, como e com quem, nem em quais circunstâncias, não combinaria com o pragmatismo de seu "segunda voz", mais comedido e profissional.

Tião tinha carisma, não queria perder isso em troca de alguns tostões.

Verdade é que se a potência vocal de Tião Carreiro é evidente, a base lhe dada pela 2ª voz de Pardinho torna suas canções perfeitas, sob o ponto de vista estético da moda caipira.

Eclético, gostava de samba entre outros gêneros.

E foi graças à sua falta de preconceitos com os gêneros musicais (ainda que o inverso não seja verdadeiro), quis misturar o sertanejo com o samba, criando uma nova batida: O Pagode.

Variação do recortado paulista, o pagode caiu nas graças dos seus súditos, que não demoraram coroá-lo, por aclamação, Rei do Pagode.

Reconhecido em vida pelos sertanejos, só em morte ganharia o respeito e admiração dos "da cidade", e dos boyzinhos de faculdade que hoje tocam suas músicas em seus sons monumentais para quem quiser ouvir, coisa que se fosse feita há 10 anos, seriam chamados de capiau.

Sua música sobreviveu ao tempo, e o tempo lhe fez justiça.

Se duvida do poder de influência deste artista, faça o seguinte teste: Se você toca violão ou tem algum amigo que toque, peça para ele começar a tocar e cantar a música "Amargurado" em qualquer lugar que esteja. Se após o primeiro verso ("Do que é feito daqueles beijos que eu te dei?") todo mundo não começar a cantar junto, prometo que nunca mais falo sobre música sertaneja neste blog.

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