Você certamente não conhecerá a
maioria das pessoas citadas.
Porém do que você vai ler hoje
uma única coisa deve ficar: A Música Sertaneja só existe graças a estes
artistas e tantos outros como eles.
João Pacífico: Neto de escravos, filho de escrava
alforriada, chegou em SP no exato dia que explodia a Revolução de 24. Nem tiros
esmoreceu a vontade deste jovem mulato de Cordeirópolis vencer na cidade
grande.
Criador da chamada
"Toada-Histórica", aquelas músicas que começam com alguns versos
declamados, antecedendo a canção e a história a ser contada. Por exemplo, quem
não conhece os versos que abrem "Cabocla
Tereza"? ("Lá,
no arto da montanha numa casa bem estranha toda feita de sapê...")
Música de sua autoria, em parceria com Raul Torres, com que ainda comporia
"Chico Mulato".
Pacífico não cantava, apenas
compunha e a isso se credita o fato de não ter tido uma melhor estabilidade
financeira. Seus intérpretes mais corriqueiros foram Raul Torres e Florêncio.
Raul Torres: Figura destoante do típico caipira,
Raul era o típico "caipira chique": terno branco, chapéu panamá,
lenço de seda no pescoço, anel de diamante... De infância pobre em Botucatu,
muda-se para São Paulo onde foi carroceiro e mais tarde trabalha na Ferrovia
Sorocabana até se aposentar (o que lhe garantiu uma boa estabilidade e
patrimônio).
Cantou em circos e cabarés até chegar nas rádios da Capital (foi
dos pioneiros na Rádio Record), e foi no rádio que ele divulgou com maestria a
música caipira.
Fez dupla com Florêncio
(violeiro que deixou de herança para Tião Carreiro, a Lendária Viola Vermelha).
Já conhecido no meio, cantava em
Cassinos Cariocas, para o reconhecimento e admiração de artistas como Noel
Rosa, Lamartine Babo, Francisco Alves e Sílvio Caldas (os patriarcas da MPB).
Autor de "Cabocla Tereza", "Colcha de retalhos", "Boiada Cuiabana", entre
outras.
Cornélio Pires: Autor e produtor do 1° disco sertanejo
raiz, pago do próprio bolso pois as gravadoras não viam como negócio lucrativo.
Após o sucesso de sua primeira leva de discos, as gravadoras abrem espaço para
a música caipira.
É portanto o desbravador da
música sertaneja raiz. Embora tenha sido cantor e poeta (letrista), foi como
produtor e "agitador" cultural que ele se destacou na música.
Tonico e Tinoco: "A Dupla Coração do Brasil"
não ganhou esse epíteto à toa.
Trata-se do primeiro grande
fenômeno musical de massa do país. Esta dupla formada por 2 irmãos de origem
pobre da região de São Miguel, foi pioneira em tudo: primeira dupla sertaneja a
se apresentar na TV, primeira a gravar LP, a se apresentar no teatro Municipal
de São Paulo e no Maracanazinho.
Suas mais de 1500 gravações,
divididas em mais de 300 álbuns (78 rpm, LP, CD,...) contam a trajetória dos
seus 50 anos de carreira.
Carreira que só seria desfeita
pela morte em 1994 de Tonico, deixando Tinoco, ainda em atividade (NB: Tinoco faleceu em 2012).
Entre tantas canções: "Chico Mineiro", "Moreninha Linda", "Pé de Ipê", "Minas Gerais",...
Inezita Barroso: Da classe média paulistana, na
infância, foi vizinha de Mário de Andrade (de quem se tornaria amiga mais
tarde), formada em Biblioteconomia na USP, representa a principal mulher no
meio tão machista como a música sertaneja.
Apresentadora de programas na TV
Cultura, ela assim como Rolando Boldrin, preserva o que a música caipira tem de
melhor, travando um embate ideológico contra a mercantilização e os rumos musicais
pelos quais caminham a moderna música sertaneja.
Muita gente boa ficou de fora,
estes são apenas alguns dos principais nomes que construíram as bases da nossa
música caipira. Numa próxima oportunidade, espero falar de gente como: Mário
Zan (autor de Chalana), Cascatinha e Inhana (a delicada música sertaneja deste
casal), Jararca e Ratinho (Jararca pertenceu ao bando de Lampião), Sulino, Caçula e
Mariano (respectivamente tio e pai do Caçulinha, do Domingão do Faustão), entre
tantos...
*Fonte: "Música
Caipira" de José Hamilton Ribeiro e "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio"
de Rosa Nepomuceno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário