sábado, 5 de janeiro de 2013

Música Caipira - Patriarcas*. (Republicação)

Você certamente não conhecerá a maioria das pessoas citadas.

Porém do que você vai ler hoje uma única coisa deve ficar: A Música Sertaneja só existe graças a estes artistas e tantos outros como eles.

João Pacífico: Neto de escravos, filho de escrava alforriada, chegou em SP no exato dia que explodia a Revolução de 24. Nem tiros esmoreceu a vontade deste jovem mulato de Cordeirópolis vencer na cidade grande.

Criador da chamada "Toada-Histórica", aquelas músicas que começam com alguns versos declamados, antecedendo a canção e a história a ser contada. Por exemplo, quem não conhece os versos que abrem "Cabocla Tereza"? ("Lá, no arto da montanha numa casa bem estranha toda feita de sapê...") Música de sua autoria, em parceria com Raul Torres, com que ainda comporia "Chico Mulato".

Pacífico não cantava, apenas compunha e a isso se credita o fato de não ter tido uma melhor estabilidade financeira. Seus intérpretes mais corriqueiros foram Raul Torres e Florêncio.

Raul Torres: Figura destoante do típico caipira, Raul era o típico "caipira chique": terno branco, chapéu panamá, lenço de seda no pescoço, anel de diamante... De infância pobre em Botucatu, muda-se para São Paulo onde foi carroceiro e mais tarde trabalha na Ferrovia Sorocabana até se aposentar (o que lhe garantiu uma boa estabilidade e patrimônio).

Cantou em circos e cabarés até chegar nas rádios da Capital (foi dos pioneiros na Rádio Record), e foi no rádio que ele divulgou com maestria a música caipira.

Fez dupla com Florêncio (violeiro que deixou de herança para Tião Carreiro, a Lendária Viola Vermelha).

Já conhecido no meio, cantava em Cassinos Cariocas, para o reconhecimento e admiração de artistas como Noel Rosa, Lamartine Babo, Francisco Alves e Sílvio Caldas (os patriarcas da MPB).

Autor de "Cabocla Tereza", "Colcha de retalhos", "Boiada Cuiabana", entre outras.

Cornélio Pires: Autor e produtor do 1° disco sertanejo raiz, pago do próprio bolso pois as gravadoras não viam como negócio lucrativo. Após o sucesso de sua primeira leva de discos, as gravadoras abrem espaço para a música caipira.

É portanto o desbravador da música sertaneja raiz. Embora tenha sido cantor e poeta (letrista), foi como produtor e "agitador" cultural que ele se destacou na música.

Tonico e Tinoco: "A Dupla Coração do Brasil" não ganhou esse epíteto à toa.
Trata-se do primeiro grande fenômeno musical de massa do país. Esta dupla formada por 2 irmãos de origem pobre da região de São Miguel, foi pioneira em tudo: primeira dupla sertaneja a se apresentar na TV, primeira a gravar LP, a se apresentar no teatro Municipal de São Paulo e no Maracanazinho.

Suas mais de 1500 gravações, divididas em mais de 300 álbuns (78 rpm, LP, CD,...) contam a trajetória dos seus 50 anos de carreira.

Carreira que só seria desfeita pela morte em 1994 de Tonico, deixando Tinoco, ainda em atividade (NB: Tinoco faleceu em 2012).

Entre tantas canções: "Chico Mineiro", "Moreninha Linda", "Pé de Ipê", "Minas Gerais",...

Inezita Barroso: Da classe média paulistana, na infância, foi vizinha de Mário de Andrade (de quem se tornaria amiga mais tarde), formada em Biblioteconomia na USP, representa a principal mulher no meio tão machista como a música sertaneja.

Apresentadora de programas na TV Cultura, ela assim como Rolando Boldrin, preserva o que a música caipira tem de melhor, travando um embate ideológico contra a mercantilização e os rumos musicais pelos quais caminham a moderna música sertaneja.


Muita gente boa ficou de fora, estes são apenas alguns dos principais nomes que construíram as bases da nossa música caipira. Numa próxima oportunidade, espero falar de gente como: Mário Zan (autor de Chalana), Cascatinha e Inhana (a delicada música sertaneja deste casal), Jararca e Ratinho (Jararca pertenceu ao bando de Lampião), Sulino, Caçula e Mariano (respectivamente tio e pai do Caçulinha, do Domingão do Faustão), entre tantos...

*Fonte: "Música Caipira" de José Hamilton Ribeiro e "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" de Rosa Nepomuceno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário