Quando o então Presidente
Fernando Henrique Cardoso disse que o Brasil era um "País Caipira",
muita gente chiou.
Eu não.
Somos caipiras sim, muito mais que
pensamos, e talvez de um modo diferente daquele a que o ex Presidente se
referiu na ocasião.
Aliás, um antecessor do próprio
FHC, o JK, de tantas obras modernizantes necessárias ao país, recebeu em seu
gabinete a dupla Alvarenga e Ranchinho, sucesso na época com músicas em tom de
sátira com crítica política.
A empatia entre eles foi
tamanha, que a dupla pouparia o Presidente de suas músicas debochadas ao longo
da carreira.
Mas antes mesmo de JK, outra
personalidade "moderna" aderia ao caipira: Mário de Andrade.
Um dos papas do Modernismo
Brasileiro, da 1ª Geração do movimento, que tanto atacou a "arte
culta", era um profundo apreciador da cultura caipira, sendo inclusive
autor de letras de músicas do gênero.
Estudioso do folclore brasileiro foi
quase inevitável que Mário derivasse para o gênero caipira.
Contemporâneo de Mário de
Andrade, Villa Lobos, nosso maior compositor clássico, relembraria seus tempos
de infância no interior do Estado de SP, compondo "Trenzinho
Caipira", uma de suas peças mais conhecidas no mundo todo.
Nascia aí um
flerte maravilhoso entre o erudito e o caipira, que décadas mais tarde
inspiraria o surgimento de "Orquestras de Viola Caipira" em várias
cidades do país.
Na MPB, não foram raros os
"poetas" que sucumbiram á força da música caipira.
Dentre os mais famosos - e
talvez melhores - Chico Buarque (sempre ele) e Milton Nascimento (caipira de
MG), uniram-se para compor "Cio da Terra", canção que mais tarde
seria imortalizada no universo caipira pelas vozes terçadas de Pena Branca e
Xavantinho.
Além de "Rancho
Fundo", música sertaneja, composta por Ary Barroso e Lamartine Babo; dois
dos mais legítimos representantes da MPB.
Mais recentemente, atendendo a
um pedido de sua mãe, Dona Canô (a quem ninguém recusa um pedido), os irmãos
Caetano Veloso e Maria Bethânia regravaram "Tristeza do Jeca", clássico da música caipira e uma
verdadeira elegia ao homem sertanejo.
Ainda não se acha caipira
suficiente?
Então vejamos...
Nos últimos 10 anos, a Rede
Globo de televisão produziu em torno de 13 programas (novelas, minisséries,
...) com temática rural ou com núcleos de personagens do campo.
Entre elas, a regravação da
novela "Paraíso",
sucesso no começo dos anos 80, que veio neste ano para alavancar a audiência da
emissora no horário das 18:00.
O poder de persuasão da cultura
caipira é tanta, que simplesmente todos, repito, TODOS, os artistas do pop
sertanejo, estes que surgem a todo ano, erroneamente denominados "Sertanejo
Universitário", regravaram músicas caipira, ainda que com nova roupagem.
Regravaram de tudo: Tião
Carreiro e Pardinho, Trio Parada Dura, Chitãozinho e Xororó (na sua fase
caipira), corroborando que a música caipira tem, ainda hoje em tempos de
internet e Ipod, o mesmo poder de penetração na mídia e no gosto popular que nos
anos de seu surgimento.
Só no Rock que ainda não
consegui encontrar a influência da música caipira, mas que sabe não aparece
algo em breve?
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