sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Mestres e discípulos.

É bastante comum ouvir a expressão "o discípulo superou o mestre", quando quer referir-se a algum caso onde o aprendiz ficou melhor que a pessoa que o ensinou, seja o que for.
Curioso como esta expressão é quase sempre usada como demérito para o mestre e elogio para o discípulo, como se o ato de ser superado por quem você ensinou seja algo que macule a reputação de quem ensina.
Eu vejo a coisa sempre pelo lado contrário: a pessoa ensinou tão bem o seu aprendiz, conseguiu com grande maestria explorar todas as possibilidades dele e extrair uma evolução tamanha, a ponto do aprendiz tornar-se melhor que o mestre.
Trata-se de uma vitória do mestre, algo a ser louvado entre os que presenciaram a façanha.
Pelé, por exemplo, teve como mestre na Seleção Brasileira, o jogador Didi. Diz a lenda que em certa altura nos jogos de preparação para a Copa de 58, o veterano jogador vendo todo o potencial e sabendo que uma orientação ruim poderia prejudicar o futuro do jovem atleta, disse laconicamente: "Neguinho, fica junto com a gente aqui que você vai se dar bem".
Essa gente a que ele se referia era: Djalma Santos, Nilton Santos, Mauro, Gilmar...
Parece que o tal "neguinho" se deu bem na Seleção Brasileira.
Na música também são vários os exemplos.
Toquinho teve como professor de violão "apenas" Paulinho Nogueira e Baden Powel e se, considerar Toquinho melhor que seus professores é de uma enorme temeridade, há que se reconhecer que o discípulo alcançou sucesso muito maior na MPB que os seus mestres, para a alegria deles com certeza.
Não sei quem foi o professor de música de Villa Lobos e Tom Jobim, mas certamente também deve ser um cara bastante orgulhoso com seu trabalho.
Fico imaginando os professores de Mozart e Bach, como não devem ter ficado felizes, ainda que desempregados, pois logo os guris seguiram com suas próprias partituras, vendo os pupilos escrever seus nomes (cada um a seu tempo, evidentemente) na história da música clássica mundial.
E aí viajo legal:
* A professora de Machado de Assis tomando-lhe a lição que ele claudicantemente aprendia nos tempos escolares.
Essa mulher merecia uma estátua, um nome numa escola ou algo assim.
* A escolinha de informática onde o Bill Gates teve suas primeiras aulas.
Se é que ele teve aula.
* Quem teria ensinado Michelangelo, Monet, Picasso e Portinari a pintar?
- Por mais autodidatas que possam ter sido, alguém deve ter-lhes apresentado à aquarela, ou no mínimo uma professora que ensinou as cores primárias e suas infinitas combinações.
* A professora pegando Paulo Freire pela mão e ensinando que B + A = BA.
* Quem teria orientado Niemyer em seus primeiros rascunhos?

A lista de casos a se citar é longa...
O verdadeiro mestre é aquele que cria condições para o aluno superá-lo. Pena que a história seja injusta e muitos deles acabam anônimos ou obscurecidos pela genialidade de seus discípulos.
Por isso que, movido pelo sentimento de justiça e gratidão, vou deixar a humanidade, além de meu legado, uma lista de mestres para que todos saibam, e valorizem, aqueles que foram os responsáveis pela minha trajetória.

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