domingo, 9 de junho de 2013

Nos palanques da vida.

Eu era apenas um rapaz latinoamericano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, vivendo no interior...  como estudante universitário e sonhando em disputar uma vaga na Câmara Municipal nas eleições de 2000.

Corria (e como corria) o ano de 1998 e estava engajado na campanha para deputado estadual, do já Deputado, Rafael Silva, da cidade de Ribeirão Preto.

Rafael é um político sério, austero, de boa índole, e há mais de 20 anos, ele perdeu a visão.

Mas não perdeu o bom humor, sempre brinca com sua "deficiência" e tem consigo uma esposa dedicada que o auxilia o tempo todo.

Eis que Rafael Silva faria um comício aqui em Ipuã.

Haveria uma caminhada dele no centro da cidade, cumprimentando eleitores no comércio locar durante o dia e o comício à noite.

Nos preparativos finais para o comício, ficou decidido que somente as autoridades políticas da cidade iriam subir no palanque.

Acontece que nossa campanha não contava com muitas destas lideranças e, para não ter um palanque com pouca gente, o conceito de lideranças foi um tanto quanto alargado.

Recordo que fui convidado de última hora para subir no palanque.

Ao ser chamado pelo locutor, várias vozes gritavam meu nome no público:

- O-ran-des!!! O-ran-des!!!

Levei um susto, pois eu então não era nada mais que um estudante universitário que sonhava com uma vaga na Câmara Municipal nas eleições de 2000.

Ao procurar saber quem eram estas pessoas que gritavam meu nome insistentemente, na esperança de que fossem alguns eleitores fieis que, mesmo faltando 2 anos para as eleições municipais já clamavam pela minha candidatura.

Descobri, meio decepcionado, apesar de feliz em ter o nome gritado pela primeira vez na vida, que tratava-se das meninas que o deputado trazia de Ribeirão em todo comício para panfletar e gritar o nome de quem quer que fosse chamado pelo locutor.

Mas o fato mais curioso foi o discurso de umas das lideranças que apoiava o Deputado.

Tratava-se de um conhecido e importante político da cidade, de muito prestígio na época, com um currículo que incluía várias eleições e diversos cargos ocupados na cidade, o que não o impediu de cometer a seguinte gafe:

Chegada sua vez de falar, após o seu “boa noite” e as introduções necessárias, começou um discurso que vez por outra, era adornado com interjeições do tipo "veja bem deputado Rafael", "olhe só Deputado", "veja você..." e outros vícios de linguagem que, ditos a um deficiente visual, não deixava de ter uma certa dose de ironia.

Após o comício, fomos a um barzinho da cidade festejar o sucesso do evento e rir bastante da "mancada" de horas atrás.

O próprio Rafael riu muito e levou na esportiva.

Tanto que antes de entrar no carro, já de partida para Ribeirão Preto, ainda brincou:

- "Nunca 'vi' uma plateia tão animada!".

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