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O duro de ser hipocondríaco,
é que nunca somos levados à sério.
Por mais que os sintomas
sejam claros e manifestos, todos à nossa volta insistem em não acreditar.
Recordo que no começo do ano
reclamei de dores e febre e que acreditava que fosse dengue.
Só quando eu estava com 39°
e o corpo todo manchado é que ouvi:
- É... talvez seja dengue
mesmo...
Claro que para o bom
hipocondríaco qualquer sintoma é visto como a mais catastrófica das doenças.
Uma dor de cabeça não pode ser uma simples enxaqueca, tem de ser um AVC.
Recordo que uma vez,
encovando os dentes, ao tossir vi algum vestígio de sangue e logo
diagnostiquei: Tuberculose.
Por mais que nos expliquem
que é exagero, fica sempre o medo de, ao não dar importância a um sintoma,
correr o risco de que dessa vez seja mesmo algo grave e você não desconfiou de
tanto ouvir que é exagero, que nunca tem nada, que sempre encana com isso
etc...
Mas não sou daqueles
hipocondríacos maníacos por remédio, aliás nem gosto de remédio.
Minha preferência é pela
prevenção. Meu lance é prevenir as coisas que acho que estou exposto:
- Não dou descarga em
banheiro público a não ser que tenha toalha de papel para eu poder puxar a
cordinha.
- Evito segurar nas barras
de ferro do metrô para não contrair gripe suína. Mas como ficar se equilibrando
no trem em movimento me trazia dois riscos à saúde maiores: cair naquele chão
infecto ou cair sobre alguém que, ofendido, responderia com violência (mesmo
que fosse apenas uma velhinha com sua sombrinha vingadora), optei por usar
aquele gel antisséptico a cada viagem de metrô ou circular.
Entre tantas manias que se
citar aqui, vão acabar descobrindo achando que sou maluco.
Seja como for, de tanto
imaginar doenças e ser desacreditado, imagino um epitáfio perfeito para o meu
leito derradeiro:
"Agora vocês
acreditam que eu estava doente?"
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