domingo, 5 de maio de 2013

Educação de Jovens e Adultos.

Quando em 2005 me fora pedido pelo então prefeito Itamar Romualdo que abrisse sala de Educação de Jovens e Adultos em Ipuã e na Capelinha, não o fiz logo no início do ano letivo como todos queriam.

A razão do "atraso" foi o fato de querer conhecer melhor os erros das administrações antecessoras e planejar melhor a abertura desta importante modalidade de ensino em nossa cidade de modo que o projeto não naufragasse.

Ao propor um novo - e eficiente - modelo de EJA para a cidade, levamos em conta a solução de problemas que identifiquei no modelo até então:

1. Distância.

Apenas a antiga Escola Profissionalizante era sede de salas de EJA.

Isso prejudicava quem morava em bairros afastados como o Santa Cruz e que dispunha de muitas pessoas interessadas em estudar, conforme relatos ouvidos durante a campanha eleitoral e mesmo depois, no dia a dia da nossa administração.

Para os moradores da Capelinha então nem se fala.

Para isso, abrimos salas nos bairros: 2 salas na Profissionalizante, 2 na EMEF Monir Neder (Bairro Santa Cruz) e 3 salas de aula na Capelinha.

2. Salas de aula.

As experiências anteriores pecavam por montar sala heterogênea, com alunos com diferentes graus de instrução misturados.

Isso prejudicava a atuação do docente que tinha de alfabetizar que não era alfabetizado e ao mesmo tempo, avançar nos estudos daqueles que já liam e escreviam.

Separamos da seguinte maneira: Sala de alfabetização e sala de aceleração (esta para alunos já alfabetizados e/ou que pararam na 3ª ou 4ª série).

3. Duração da aula.

Não dava para alunos que trabalharam o dia todo, muitos deles trabalhadores braçais das lavouras de cana da cidade, estudar 4 horas à noite.

Mesmo os que conseguissem chegar até o final, o rendimento seria ínfimo.

O horário é um elemento de repulsa do aluno em relação ao EJA que, por necessidade física, não consegue ficar acordado até às 22:00 com o mesmo rendimento que alunos do curso regular.

Nosso horário foi flexibilizado e ia até às 21:00 no máximo.

4. Aulas.

Não dá para imaginar que ensina-se adultos da mesma maneira que ensina crianças a ler.

As aulas de EJA têm de ter uma dinâmica diferente.

Propus às primeiras professoras que "compraram" a ideia comigo de que partíssemos do princípio de uma educação inovadora, que levasse o aluno não apenas a ler e escrever, mas melhor compreender e transformar o mundo em que vive.

Não posso dizer que formamos um projeto Freireano, na acepção do termo e da maneira como eu sempre sonhei, mas foi a iniciativa que chegou mais perto disso em toda a história desta cidade.



Além de, para melhor atender aos alunos e servir como incentivo aos estudos, a nossa administração disponibilizou: uniforme, mochila, material, didático,...

Resultado: Mais de 100 alunos inscritos.

E o melhor de tudo: a cada ano diminuindo mais o número de alunos. Significando que estávamos erradicando o analfabetismo na cidade.

O modelo que se seguiu sofreu algumas variações, mas a espinha dorsal havia sido bem calcificada de modo que fica impossível alguém fazer diferente.

O problema foi que no afã de imprimir uma marca, sucessores optaram por criar EJA do ensino fundamental II (de 6º ao 9º ano), o que na minha opinião, foi um erro da gestão passada.

Totalmente desnecessário porque já havia uma escola que oferecia este ciclo aos alunos, a única escola estadual da cidade.

Esta atitude criou uma "competição" que pode ter resultado no fechamento de salas da escola estadual (fazendo com que professores possam ter perdido aulas de sua jornada) e ainda, onerando a verba do FUNDEB destinada ao pagamento de salários dos professores uma vez que a abertura deste EJA no município resultou na contratação de vários professores e mais recentemente, coordenador e diretor.

O dinheiro que poderia ser revertido em reajuste acabou indo parar na manutenção de uma modalidade de ensino que a cidade já dispunha e que não lhe onerava.

Claro que o município recebe verba por estes alunos mas há que se perguntar:

- É suficiente para sua manutenção?

- Avaliaram os impactos financeiros a médio e longo prazo que tal criação acarretaria ao erário municipal?

- Era necessário um EJA municipal de Ensino Fundamental II?

Agora não dá pra mudar.

O impacto negativo de fechar toda uma modalidade de ensino seria de enorme prejuízo moral e pedagógico para a cidade.

Como é o que se tem para hoje, está aí uma bela encrenca para a atual administração resolver, sobretudo em época de reivindicação por reajuste no valor da hora aula (com abaixo assinados sendo feitos no seio das escolas) onde certamente a necessidade da criação deste EJA deve estar sendo questionada.

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