Quando em 2005 me fora pedido pelo então
prefeito Itamar Romualdo que abrisse sala de Educação de Jovens e Adultos em
Ipuã e na Capelinha, não o fiz logo no início do ano letivo como todos queriam.
A razão do "atraso" foi o fato de
querer conhecer melhor os erros das administrações antecessoras e planejar
melhor a abertura desta importante modalidade de ensino em nossa cidade de modo
que o projeto não naufragasse.
Ao propor um novo - e eficiente - modelo de
EJA para a cidade, levamos em conta a solução de problemas que identifiquei no
modelo até então:
1. Distância.
Apenas a antiga Escola Profissionalizante
era sede de salas de EJA.
Isso prejudicava quem morava em bairros
afastados como o Santa Cruz e que dispunha de muitas pessoas interessadas em
estudar, conforme relatos ouvidos durante a campanha eleitoral e mesmo depois,
no dia a dia da nossa administração.
Para os moradores da Capelinha então nem se
fala.
Para isso, abrimos salas nos bairros: 2
salas na Profissionalizante, 2 na EMEF Monir Neder (Bairro Santa Cruz) e 3
salas de aula na Capelinha.
2. Salas de aula.
As experiências anteriores pecavam por
montar sala heterogênea, com alunos com diferentes graus de instrução
misturados.
Isso prejudicava a atuação do docente que
tinha de alfabetizar que não era alfabetizado e ao mesmo tempo, avançar nos
estudos daqueles que já liam e escreviam.
Separamos da seguinte maneira: Sala de
alfabetização e sala de aceleração (esta para alunos já alfabetizados e/ou que
pararam na 3ª ou 4ª série).
3. Duração da aula.
Não dava para alunos que trabalharam o dia
todo, muitos deles trabalhadores braçais das lavouras de cana da cidade,
estudar 4 horas à noite.
Mesmo os que conseguissem chegar até o
final, o rendimento seria ínfimo.
O horário é um elemento de repulsa do aluno
em relação ao EJA que, por necessidade física, não consegue ficar acordado até
às 22:00 com o mesmo rendimento que alunos do curso regular.
Nosso horário foi flexibilizado e ia até às
21:00 no máximo.
4. Aulas.
Não dá para imaginar que ensina-se adultos
da mesma maneira que ensina crianças a ler.
As aulas de EJA têm de ter uma dinâmica
diferente.
Propus às primeiras professoras que "compraram"
a ideia comigo de que partíssemos do princípio de uma educação inovadora, que
levasse o aluno não apenas a ler e escrever, mas melhor compreender e
transformar o mundo em que vive.
Não posso dizer que formamos um projeto
Freireano, na acepção do termo e da maneira como eu sempre sonhei, mas foi a
iniciativa que chegou mais perto disso em toda a história desta cidade.
Além de, para melhor atender aos alunos e
servir como incentivo aos estudos, a nossa administração disponibilizou:
uniforme, mochila, material, didático,...
Resultado: Mais de 100 alunos inscritos.
E o melhor de tudo: a cada ano diminuindo
mais o número de alunos. Significando que estávamos erradicando o analfabetismo
na cidade.
O modelo que se seguiu sofreu algumas
variações, mas a espinha dorsal havia sido bem calcificada de modo que fica
impossível alguém fazer diferente.
O problema foi que no afã de imprimir uma
marca, sucessores optaram por criar EJA do ensino fundamental II (de 6º ao 9º
ano), o que na minha opinião, foi um erro da gestão passada.
Totalmente desnecessário porque já havia uma
escola que oferecia este ciclo aos alunos, a única escola estadual da cidade.
Esta atitude criou uma
"competição" que pode ter resultado no fechamento de salas da escola
estadual (fazendo com que professores possam ter perdido aulas de sua jornada)
e ainda, onerando a verba do FUNDEB destinada ao pagamento de salários dos
professores uma vez que a abertura deste EJA no município resultou na
contratação de vários professores e mais recentemente, coordenador e diretor.
O dinheiro que poderia ser revertido em
reajuste acabou indo parar na manutenção de uma modalidade de ensino que a
cidade já dispunha e que não lhe onerava.
Claro que o município recebe verba por estes
alunos mas há que se perguntar:
- É suficiente para sua manutenção?
- Avaliaram os impactos financeiros a médio
e longo prazo que tal criação acarretaria ao erário municipal?
- Era necessário um EJA municipal de Ensino
Fundamental II?
Agora não dá pra mudar.
O impacto negativo de fechar toda uma
modalidade de ensino seria de enorme prejuízo moral e pedagógico para a cidade.
Como é o que se tem para hoje, está aí uma
bela encrenca para a atual administração resolver, sobretudo em época de
reivindicação por reajuste no valor da hora aula (com abaixo assinados sendo
feitos no seio das escolas) onde certamente a necessidade da criação deste EJA
deve estar sendo questionada.
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