Era uma sessão
solene. O que não lhe tirava o aspecto de sessão festiva.
Além de ser a entrega de um
título de cidadão Ipuanense, a Câmara Municipal aproveitaria o fato do
agraciado ser rotariano e realizaria uma sessão solene em homenagem ao
centenário do Rotary Internacional (2004).
Estava presente,
além da comunidade rotária municipal, vários companheiros de cidades vizinhas
para tão especial cerimônia.
Foi nesse
contexto que o fato se deu.
Na sessão anterior
a esta, o clima tinha pesado; levado ao plenário por mim a denúncia de que o
SERPASE (uma entidade particular sem fins lucrativos que prestava serviço na
área de assistência social e educação à Prefeitura) havia destinado recursos
municipais, a ela repassados pela Prefeitura, em gastos com maquiagem, aluguel de som e aluguel
de boiada para a Expuã de 2003.
A irregularidade
havia sido apontada pelo Tribunal de Contas e nós da oposição não perdoamos.
Naquela sessão
argumentei como poderia uma entidade que recebe verba da Prefeitura para
desempenhar função de promoção social, usar esta verba para maquiagem, boiada e
som.
Era um claro
exemplo de terceirização do serviço público, uma vez que a entidade PARTICULAR
funcionava num prédio público, tinha servidores municipais prestando serviço a
ela e sua diretoria era composta grande parte por pessoas com cargos de
confiança na Administração Municipal.
Além da entidade
não ter outra receita que não fosse a subvenção municipal.
Foi a deixa para
vários outros vereadores desfilarem suas críticas à Administração Municipal e
sobretudo ao SERPASE, que claramente deixava de cumprir sua função para atender
outros interesses.
Houve risos
quando eu disse que presumia que o gasto com maquiagem fosse para as Rainhas do
Rodeio e um Vereador me pedindo um aparte, complementou que poderia ter sido
para maquiar os bois que também haviam sido pagos com dinheiro do SERPASE.
Uma sessão
onde a oposição simplesmente desfilou todo seu repertório de críticas e de
ironias.
Acontece que a
sessão seguinte foi a tal sessão solene, e um dos membros do Rotary de Ipuã
era justamente o tal presidente do SERPASE a que tanto criticamos.
Eis que ao abrir
a sessão, foi lida (como de praxe) a ata da sessão anterior, justamente a tal sessão acima descrita. Então foi lida a ata para o plenário lotado, com a
presença da elite da comunidade rotária regional, o presidente do SERPASE foi
exposto como nunca imaginou que seria, com seu nome citado inúmeras
vezes na ata.
Todos os presentes
ficaram sabendo não só do fato, mas de como nós, vereadores, abordamos a
questão de maneira tão crítica e irônica.
Ao perceber a
gafe, era tarde demais. A ata foi lida até o final.
Saia justa geral,
exceto para mim, que desafeto declarado do tal Presidente, ouvi atentamente a
leitura da ata com um “silêncio sorridente”, pena que minhas palavras não
tenham sido transcritas na íntegra naquela ata.
Teriam escutado
muito mais.