quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ralouim.

Não é verdade que eu não gosto de Halloween, ou melhor, Ralouim. Na verdade, verdadeira, não gosto da "importação" desta festa, hoje tipicamente Estadosunidense, para o nosso país.
Até entendo as escolas de inglês incentivem sua comemoração afinal ensinam não apenas o idioma bretão mas toda a cultura que o envolve.
Não gosto é quando esta "comemoração" extrapola os limites da sala de aula dos cursos de idiomas.
E já extrapolou!!!
A comemoração da efeméride faz parte do calendário de 10 entre 10 escolas particulares do país. Leciono em duas e em ambas a data é festejada.
Penso que mais por "pressão" dos alunos que por vontade própria.
É que para os alunos, a data é algo consolidado em nossa cultura, haja visto que os já citados cursinhos de inglês promovem o dia, assim como a escola de um parente que mora na cidade grande, o filme ou a série de TV a que eles assistem, enfim, não faltam referências para que os alunos das nossas escolas passem a clamar também para que na sua escola se faça o Ralouim.
Menos mal que sempre há um professor ou professora que explica a origem e o significado da data.
E no caso das duas escolas em que leciono, sempre há um chato que explica que não existe o menor significado para nós, moradores destes tristes trópicos, comemorarmos o Ralouim; que trata-se de um roubo de cultura, que é o símbolo do imperialismo cultural dos EUA para com os povos da América Latina, que devemos valorizar o produto nacional, etc etc etc.
Não sou purista, aliás defendo o intercâmbio cultural, sou contra apenas à massificação cultural e à perda da identidade nacional.
Defendo que Vampiros, Franksteins e Bruxas existam no Brasil, porém ao lado da Mula sem Cabeça, do Saci Pererê e do Curupira. E como entendo cultura como uma via de mão dupla, questiono: Os Estadosunidenses estão prontos para conhecê-los?
Que Obama, certamente reeleito, venha para cá passar uns dias para conhecer nosso riquíssimo folclore e levar para as crianças de seu país um pouco desta nossa tradição.
Já pensaram nosso folclore incorporado na mais legítima tradição americana?
Um par de meninos disfarçados de Mula sem Cabeça batendo na porta e dizendo: Trick-or-treat (doce ou travessura)?
Bruxas andando lado a lado com Boitatás e Sereias com as sacolinhas cheias de doces?
Seria a consumação do movimento antropofágico do começo do século passado, o Tupi or not Tupi materializado em pleno século XXI. Mais Oswaldiano que isso, impossível!

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Oswald de Andrade)

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