Não é verdade que eu não gosto de Halloween,
ou melhor, Ralouim. Na verdade, verdadeira, não gosto da "importação"
desta festa, hoje tipicamente Estadosunidense, para o nosso país.
Até entendo as escolas de inglês incentivem
sua comemoração afinal ensinam não apenas o idioma bretão mas toda a cultura
que o envolve.
Não gosto é quando esta
"comemoração" extrapola os limites da sala de aula dos cursos de
idiomas.
E já extrapolou!!!
A comemoração da efeméride faz parte do
calendário de 10 entre 10 escolas particulares do país. Leciono em duas e em
ambas a data é festejada.
Penso que mais por "pressão" dos
alunos que por vontade própria.
É que para os alunos, a data é algo
consolidado em nossa cultura, haja visto que os já citados cursinhos de inglês
promovem o dia, assim como a escola de um parente que mora na cidade grande, o
filme ou a série de TV a que eles assistem, enfim, não faltam referências para
que os alunos das nossas escolas passem a clamar também para que na sua escola
se faça o Ralouim.
Menos mal que sempre há um professor ou
professora que explica a origem e o significado da data.
E no caso das duas escolas em que leciono,
sempre há um chato que explica que não existe o menor significado para nós,
moradores destes tristes trópicos, comemorarmos o Ralouim; que trata-se de um
roubo de cultura, que é o símbolo do imperialismo cultural dos EUA para com os
povos da América Latina, que devemos valorizar o produto nacional, etc etc etc.
Não sou purista, aliás defendo o intercâmbio
cultural, sou contra apenas à massificação cultural e à perda da identidade
nacional.
Defendo que Vampiros, Franksteins e Bruxas
existam no Brasil, porém ao lado da Mula sem Cabeça, do Saci Pererê e do
Curupira. E como entendo cultura como uma via de mão dupla, questiono: Os Estadosunidenses
estão prontos para conhecê-los?
Que Obama, certamente reeleito, venha para
cá passar uns dias para conhecer nosso riquíssimo folclore e levar para as
crianças de seu país um pouco desta nossa tradição.
Já pensaram nosso folclore incorporado na
mais legítima tradição americana?
Um par de meninos disfarçados de Mula sem
Cabeça batendo na porta e dizendo: Trick-or-treat (doce ou
travessura)?
Bruxas andando lado a lado
com Boitatás e Sereias com as sacolinhas cheias de doces?
Seria a consumação do
movimento antropofágico do começo do século passado, o Tupi or not Tupi
materializado em pleno século XXI. Mais Oswaldiano que isso, impossível!
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Oswald de Andrade)
Nenhum comentário:
Postar um comentário