A questão era parte de um trabalho de pesquisa exigido pela faculdade, cujo curso ela concluirá este ano.
Atendo sempre que posso a estes pedidos. Por acreditar que posso contribuir com os universitários e as universitárias e com a Educação principalmente.
Além de já ter sofrido na pele a dificuldade de conseguir pesquisar professores.
Pedi-lhe apenas que me deixasse, um dia, publicar minha resposta, afinal depois que lhe enviei o texto, ele não me pertence mais. No que ela consentiu de imediato.
O dia chegou, a resposta segue abaixo com algumas poucas mudanças no texto original. Mas a base é a mesma.
Entendo a gestão pedagógica de uma escola, ou de uma
rede municipal ou estadual, como sendo o coração do nosso sistema escolar.
E talvez por isso vejo com profundo lamento que tal
questão tenha sido relegada dentro das políticas públicas de educação.
Com o advento da municipalização do ensino a partir
de final dos anos de 1990 e começo dos anos 2000, muitas cidades optaram por
preencher os cargos existentes nas escolas (Diretor, Vice Diretor e Coordenador
Pedagógico) por indicação, o que não deve ser visto como perda de qualidade
desde que haja critérios específicos para o preenchimento dos cargos.
Lamentavelmente nem sempre é esta a realidade
presenciada.
De Diretor e Vice Diretor, exige-se apenas o diploma
de Pedagogia, e do Coordenador Pedagógico, muitas vezes, apenas diploma de
Ensino Superior, sem ao menos exigir que seja Licenciatura.
Se por um lado permite ao governante escolher pessoas
com notório conhecimento e competência na área educacional, por outro, abre uma
fenda para utilizar-se destes cargos como loteamento político ou agraciar
militantes e correligionários.
Por isso defendo que a principal bandeira a ser
levantada pelos defensores da educação no âmbito municipal deve ser a da
política pública.
Ressalto que existe uma enorme diferença entre
política pública e política de governo. Enquanto esta última nasce da vontade
de um governante eleito pelo voto direto do povo, a primeira é fruto de uma
discussão ampla envolvendo toda a cadeia hierárquica da Educação Municipal,
além de sociedades classistas, ONG’s e comunidade do entorno da escola.
A gestão pedagógica deve convergir seus esforços na
consecução das metas, objetivos e estratégias egressas da política pública, e
não o contrário.
Não raro ouvimos que Educação se faz com
continuidade, que trocas sucessivas prejudicam o seu perfeito andamento. Há que
se perceber que erroneamente esse continuísmo é associado às pessoas e não às
ideias e projetos devidamente planejados.
Seria ingenuidade da nossa parte imaginar que uma
gestão escolar, mesmo que comprovadamente competente e aprovada por todos os envolvidos
no processo educacional (de pais de alunos a professores), sobreviva a uma mudança
de Administração Municipal.
É necessário criar mecanismos legais para que, mesmo
havendo a troca de governo municipal e a consequente troca de todos os gestores
da educação, preserve-se o projeto de gestão pedagógica adotado pela política
pública.
Em resumo: políticos e gestores passam, a “filosofia”
implantada em comunhão de ideias, fica.
E qual seria o papel dos gestores pedagógicos nesse
processo?
Além do evidente papel de executores, há toda uma
atividade intelectual da qual eles podem contribuir na elaboração das
diretrizes de uma política pública. Sobretudo na realização de uma completa
reestruturação curricular da rede de ensino.
Não se pode falar em qualidade de ensino seguindo as
mesmas diretrizes curriculares que há anos se mostram ineficiente no que diz
respeito à formação sociocultural, intelectual e cognitiva dos alunos. Assim
fosse, não haveria necessidade da criação das cotas, do aumento dos dias
letivos e da carga hora (que em nada resolvem, pois aumentar um currículo
ultrapassado apenas reproduz, em escala maior, a baixa qualidade do sistema),
dentre outras medidas que funcionam mais como um paliativo que uma solução.
Há que se discutir a questão do material didático,
que não pode ser trocado a cada 4 anos ao gosto de Prefeitos e interesses das
empresas que mercantilizam nossa educação.
E ainda: as disciplinas a serem oferecidas, o uso da
arte como elemento de promoção da cultura humana, reformular o ensino de
educação física, a questão da EJA, dos reforços escolares como forma de
diminuir a repetência, a própria questão da repetência que muitos ainda veem
como recurso didático, a realização de cursos de aprimoramento profissional
docente e de gestores, incluir na educação a cultura da avaliação educacional como
instrumento de promoção da qualidade e diagnóstico de erros, possibilitando a
sua correção, dentre outros.
A função da gestão pedagógica, como podemos ver,
ultrapassa os limites que acreditamos ser a linha do horizonte educacional. Ela
vai além do que podemos imaginar, em grande parte porque nos acostumamos a
vê-la sem exercer sequer uma pequena porcentagem de suas possibilidades, presa
à burocracia, à política (ou a falta dela) e, nos piores casos, à falta de
competência.
Cabe aos novos gestores pedagógicos, formados dentro
dos modernos conceitos de qualidade em educação, lutar pela mudança dessa
triste realidade que infelizmente acomete escolas e cidades.
Bom dia Orandes, concordo com algumas de suas afirmações e acredito que toda a Educação em Ipuã mereça um profunda reformulação, a Direção, Coordenação e todos os demais postos e serviços merecem sim antes de qualquer outra coisa pessoas qualificadas para exercerem funções tão importantes não só no cargos de decisão como também no "front" das escolas junto aos alunos, só fiquei meio confuso sobre qual é a sua posição quanto a mudar ou não os profissionais que fazem parte da administração atual da nossa educação, pois realmente não creio que tenhamos muito do que nos orgulhar (principalmente neste ano em particular) e se bem me lembro foi você mesmo quem disse que ao mudar uma administração tem que mudar todo mundo, e então?
ResponderExcluirProfº Sandro
Meu texto não se refere à Educação Ipuanense especificamente, mas à educação municipalizada como um todo.
ExcluirEu prego a adoção de uma política pública, a ser seguida por quem quer que ocupe cargos seja eletivos, seja de direção de departamentos, seja de gestão.
Nenhum candidato abordou esta questão, não sei se por desconhecer o assunto, se por achá-lo polêmico ou se falta pessoas capacitadas para tal.
Uma continuidade de pensamento, de filosofia, de gestão, para os próximos 10 ou 15 anos.
Mas para implantar uma política pública é necessário diálogo entre os agentes da educação.
Não vislumbro isso acontecendo em nossa cidade num futuro próximo.