sexta-feira, 26 de outubro de 2012

As palavras como elas são.

Sou implicado com palavras. Desde criança.

Algumas eu achava divertidas como "Anhangabaú" e repetia até enjoar.

Outras eu estranhava a sonoridade, como por exemplo, a palavra "garoto".

E tem aquelas, minhas preferidas, que eu passei uma vida toda pensando serem grafadas de um jeito e descubro, já na idade adulta, que são grafadas de modo completamente diferente.

Todo mundo conhece a cantiga popular "Hoje é domingo", cantada e recantada por mães aos seus filhos desde sempre, passada entre as gerações por meio da tradição oral, característica primeira das cantigas.

Pois bem, logo no primeiro verso encontra-se um caso curioso de palavras que pensar ser de um jeito, quando na verdade é de outro.

Sempre pensei que fosse "Hoje é domingo pé de cachimbo". Imaginava então uma árvore cheia de cachimbinhos, uns mais novos (verdes), outros mais velhos (maduros). Estes últimos já soltando fumaça.

Nunca parei pra pensar na hipótese absurda que é existir um  pé de cachimbo, uma árvore cachimbeira. E não por ignorância, pois se mais à frente a mesma cantiga diz "o touro é valente, bate na gente; a gente é de barro...", pensei tratarem-se de surrealismos normais dentro de uma canção quase nom sense.

Na realidade a cantiga diz: "Hoje é domingo pede cachimbo". É pede, 3ª pessoa do indicativo do verbo pedir.

E por que domingo pede cachimbo? Na verdade, cachimbo é metáfora de paz, sossego, tranqulidade.

Outra palavra da minha infância que o senso comum ipuanense (e quiçá regional) ainda não parou para corrigir: "Lagartiú".

Dias atrás comentei com um amigo, numa mesa de boteco (onde por sinal saem as maiores filosofadas):

- Não existe Lagartiú.

E ele respondeu:

- Como não??? Passei minha infância tentando matar o que então?

Na verdade me expressei mal, o animal que invade quintais, rodovias e terreiros de sítios, chama-se "Lagarto Teiú" (ou sua variação em outros estados: "Lagarto Teju").

Quer mais uma?

"Muganga" ou "Manganga".

Trata-se de um animal, parecido com besouro no tamanho e na forma de voar, mas que possui um ferrão que, segundo dizem, causa uma dor terrível.

Pois bem, passei minha infância com medo de ser ferroado por uma abelha "Mamangava", ou "Mamangaba" ou ainda, "Mamangá".

E tem ainda aquelas palavras que a gente sabe que estão erradas mas não consegue falar corretamente. Pelo menos nem sempre consegue.

Por exemplo, "Besouro". Não tem como a gente não referir-se aos insetos que nesta época do ano infestam casas, ruas, e onde houver um facho de luz, por "Bizorro".

No que me vem a piada: Bizorro são dois Zorros?

E também a palavra "Corgo". Nós sabemos que o correto é "Córrego", mas é quase mecânico a pronúncia da sua corruptela (outra palavra curiosa e de fácil sonoridade).

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