Sou implicado com palavras. Desde criança.
Algumas eu achava divertidas como "Anhangabaú"
e repetia até enjoar.
Outras eu estranhava a sonoridade, como por
exemplo, a palavra "garoto".
E tem aquelas, minhas preferidas, que eu
passei uma vida toda pensando serem grafadas de um jeito e descubro, já na
idade adulta, que são grafadas de modo completamente diferente.
Todo mundo conhece a cantiga popular
"Hoje é domingo", cantada e recantada por mães aos seus filhos desde
sempre, passada entre as gerações por meio da tradição oral, característica
primeira das cantigas.
Pois bem, logo no primeiro verso encontra-se
um caso curioso de palavras que pensar ser de um jeito, quando na verdade é de
outro.
Sempre pensei que fosse "Hoje é domingo
pé de cachimbo". Imaginava então uma árvore cheia de cachimbinhos,
uns mais novos (verdes), outros mais velhos (maduros). Estes últimos já
soltando fumaça.
Nunca parei pra pensar na hipótese absurda
que é existir um pé de cachimbo, uma árvore cachimbeira. E não por
ignorância, pois se mais à frente a mesma cantiga diz "o touro é valente,
bate na gente; a gente é de barro...", pensei tratarem-se de surrealismos
normais dentro de uma canção quase nom sense.
Na realidade a cantiga diz: "Hoje é
domingo pede cachimbo". É pede, 3ª pessoa do indicativo do verbo
pedir.
E por que domingo pede cachimbo? Na verdade,
cachimbo é metáfora de paz, sossego, tranqulidade.
Outra palavra da minha infância que o senso
comum ipuanense (e quiçá regional) ainda não parou para corrigir: "Lagartiú".
Dias atrás comentei com um amigo, numa mesa
de boteco (onde por sinal saem as maiores filosofadas):
- Não existe Lagartiú.
E ele respondeu:
- Como não??? Passei minha infância tentando
matar o que então?
Na verdade me expressei mal, o animal que
invade quintais, rodovias e terreiros de sítios, chama-se "Lagarto Teiú" (ou sua
variação em outros estados: "Lagarto Teju").
Quer mais uma?
"Muganga" ou "Manganga".
Trata-se de um animal, parecido com besouro
no tamanho e na forma de voar, mas que possui um ferrão que, segundo dizem, causa
uma dor terrível.
Pois bem, passei minha infância com medo de
ser ferroado por uma abelha "Mamangava", ou "Mamangaba" ou ainda, "Mamangá".
E tem ainda aquelas palavras que a gente
sabe que estão erradas mas não consegue falar corretamente. Pelo menos nem sempre
consegue.
Por exemplo, "Besouro". Não tem como a gente
não referir-se aos insetos que nesta época do ano infestam casas, ruas, e onde houver um facho de
luz, por "Bizorro".
No que me vem a piada: Bizorro são dois Zorros?
E também a palavra "Corgo". Nós
sabemos que o correto é "Córrego", mas é quase mecânico a pronúncia
da sua corruptela (outra palavra curiosa e de fácil sonoridade).
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