sábado, 19 de outubro de 2013

Semana Viniciniana - Uma carta para o Poetinha.

Hoje é teu aniversário poeta.

E a alegria pela data é proporcional à tristeza pela sua ausência. 

Mas se tua passagem nessa vida foi infinita apenas enquanto durou, teu legado artístico continua e continuará eternamente.

Enquanto houver um homem apaixonado neste país haverá quem cantarole uma ou outra música de sua autoria, ou algum poema mais conhecido, outrora escrito em um pedaço de guardanapo e enviado com uma flor para a mulher amada, hoje substituído por citações no feicebuqui com endereço certo.

Falta alguém como você nesta vida cada dia mais insossa, insípida e incolor.

Uma personalidade que quebre as convenções, que seja politicamente incorreto, que sofre por amor e admita que está sofrendo por meio de letras e poemas. Mas uma personalidade com lastro moral e intelectual suficiente para não ser taxado de rebelde, anti ético e piegas (ou corno), adjetivos tantas vezes atribuídos (injustamente) a quem age da maneira como você agia no passado.

O que mas nos faz falta é o teu exemplo, sua presença como um farol a nos guiar pelos mares revoltos da paixão.

Sei não Poetinha Vagabundo, a música brasileira mudou bastante...

Talvez não houvesse lugar para você nestes tempos de fama instantânea onde bordões, batidas e interjeições sem significado algum fazem mais sucesso (muito mais) que músicas com letras e harmonias casadas perfeitamente.

Você provavelmente teria de concorrer com os "Bará bará bará berê berê berê", que certamente ousariam comparar, heregicamente, ao teu "tonga da mironga do cabuletê".

Sua música não teria a mesma atenção que tem, por exemplo, a cantora Anita (que desconfio que não precisaria mais que 2 min de conversa para cair na sua lábia), Latino, Funk e Sertanejo Universitário em geral.

Sua poesia então nem me arrisco a falar, você foi o nosso último poeta, e único a viver como poeta, segundo palavras do nosso amigo Drummond.

Já mulheres e bebidas, você não reclamaria, continuam como no seu tempo. Uma ou outra mudança comportamental, de valores, mas nada que você não atualizasse sua preferência para aceitar as mudanças.

Pena que este pobre Blogueiro e professor de Literatura não viveu durante o auge de sua obra. Peguei seus 4 anos finais de vida, mas a tenra idade não me permitiu conhecê-lo em vida.

Tive de compensar com estudo, áudios e vídeos felizmente abundantes.

Eu que se antes lamentava não ter vivido nos anos 60/70 para ter pego em armas e lutar contra o regime, hoje lamento algo mais: não ter vivido a atmosfera que tua obra envolvia nas pessoas daquela época.

Sou um homem fora do meu tempo poeta.

Como professor, me resta ensinar anos a fio a tua obra às novas gerações, e fico feliz que a cada ano, mais de um aluno ou aluna acaba inebriado pela sua música e poesia e olhando o mundo pela luz de teus olhos poeta.

Um pouco de amor nesse mundo maluco não faria mal a ninguém.

Um pouco mais de Vinícius de Moraes neste mundo maluco não faria mal a ninguém.

Salve salve Poetinha.

Saravá!



PS: Em razão da Semana Viniciniana, excepcionalmente não apresentaremos capítulo da série a série "Com o giz na mão", que volta normalmente no próximo sábado.

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