Relutei em aceitar o gênero "Sertanejo Universitário"
durante um bom tempo.
Só não demorei mais tempo do que aceitar a
denominação "universitário" para um estilo musical que outros,
"não universitários" fazem igual.
Acabei aceitando esta denominação, pelas razões que explico no final do texto.
Minha cisma era: Quais os critérios para que um cantor ou
dupla seja "filiado" ao sub gênero?
Não me venha falar que é o ensino
superior, pois não me consta até hoje que Gusttavo Lima e Luan Santana tenham
se matriculado em algum curso superior, quiçá terminado o ensino médio.
Nunca entendi a razão de duas duplas
contemporâneas, João Bosco e Vinícius e César Menotti e Fabiano, apenas a
primeira seja enquadrada como universitária e a segunda, apesar da similaridade
dos estilos, não.
Então o critério seria estético, talvez
até etário: jovens, bonitinhos e engraçadinhos (rebolando), são universitários; os mais velhos,
fora dos padrões de beleza e sérios, são sertanejos tradicionais.
Em uma entrevista, o cantor Sorocaba
explicou que a diferença estava na temática.
De fato, músicas dele por exemplo aborda
uma temática mais próxima dos estudantes universitários, ou acha que algum
cantor sertanejo "tradicional" cantaria uma música cuja história se
passa em um apartamento no Guarujá, onde o churrasco é acompanhado de
Champanhe?
Qualquer outro sertanejo do país diria “ceva” no lugar de “champa”,
mas na temática universitária...
Dá balão no namorado
Desliga o celular
Pode vim, vem festar
Hoje não vai prestar
O churrascão vai comer solto
A "champa" não pode faltar
Liga pra quatro ou cinco amigas
Traz o biquini
Que hoje o sol tá de rachar
As mina pira, pira
Toma tequila
Sobe na mesa
Pula na piscina
As mina pira, pira
Entra no clima
Tá fácil de pegar
Pra cima!
“Apê” no Guarujá com piscina e tudo mais,
chapanhe em churrasco, celular, de fato tudo isso é temática que não
conseguiria ser encaixada em alguma letra do sertanejo que fazem Zezé di
Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Bruno e Marrone. E muito distante do
que fizeram Matogrosso e Mathias, Milionário e José Rico e João Mineiro e
Marciano.
Mas daí rotular como universitário este
"ideal de vida" há uma enorme distância.
Mais correto seria rotular como ideal de
vida universitária burguesa, e quem sabe alterar o nome do sub gênero para
"Sertanejo Universitário Burguês", ou vai me dizer que você,
universitário leitor segue este padrão de vida?
Seja como for, há que se reconhecer que
além da temática, o linguajar também se aproxima dos jovens brasileiros do
século XXI, como erros, gírias e chavões de domínio público que quando
incorporados às letras das músicas, ganha instantaneamente a identificação de grande
parte do público que "se vê" nas músicas que consome.
A própria dupla Fernando e Sorocaba, que
diga-se de passagem tem no Sorocaba uma grande visionário do ramo sertanejo,
dono de grande perspicácia, além de um grande empresário. Consigo identifica um
padrão de comportamento em suas composições ao adaptar para o sertanejo, os
modismos de nosso tempo.
Foi o que o levou a incluir a expressão
"Paga pau" pela primeira, e única vez, em uma letra de música há
coisa de 6 anos e fazer o hit virar sucesso nacional.
O mesmo acontece com "as mina
pira" que ele tão bem adaptou numa levada rápida e gostosa que, já com
sucesso retumbante, contribuiu para manter a dupla no topo. Além do título,
expressões como “pegar”, para designar o relacionamento amoroso casual e fugaz entre
um homem e uma mulher, também faz parte do linguajar do jovem atual.
Este tipo de música é, portanto, uma
fórmula seguida por vários artistas, muitos deles cujas carreiras vão se
resumir a uma única música (duas ou três no máximo) que surgem com status de
ídolos sertanejos na mesma velocidade que desaparecerão.
Uma fórmula que ao meu ver, esgotou-se e
sofre com a falta de capacidade de renovar-se, de se reinventar.
Na minha opinião, o sertanejo
universitário é um gênero estagnado que derrapa para tentar sair do lugar
(comum) em que se encontra.
Mas sobre isso eu falo amanhã.
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