terça-feira, 1 de outubro de 2013

Uma visão pessoal do sertanejo universitário - 1ª parte.

Relutei em aceitar o gênero "Sertanejo Universitário" durante um bom tempo.

Só não demorei mais tempo do que aceitar a denominação "universitário" para um estilo musical que outros, "não universitários" fazem igual.

Acabei aceitando esta denominação, pelas razões que explico no final do texto.

Minha cisma era: Quais os critérios para que um cantor ou dupla seja "filiado" ao sub gênero?

Não me venha falar que é o ensino superior, pois não me consta até hoje que Gusttavo Lima e Luan Santana tenham se matriculado em algum curso superior, quiçá terminado o ensino médio.

Nunca entendi a razão de duas duplas contemporâneas, João Bosco e Vinícius e César Menotti e Fabiano, apenas a primeira seja enquadrada como universitária e a segunda, apesar da similaridade dos estilos, não.

Então o critério seria estético, talvez até etário: jovens, bonitinhos e engraçadinhos (rebolando), são universitários; os mais velhos, fora dos padrões de beleza e sérios, são sertanejos tradicionais.

Em uma entrevista, o cantor Sorocaba explicou que a diferença estava na temática.

De fato, músicas dele por exemplo aborda uma temática mais próxima dos estudantes universitários, ou acha que algum cantor sertanejo "tradicional" cantaria uma música cuja história se passa em um apartamento no Guarujá, onde o churrasco é acompanhado de Champanhe?

Qualquer outro sertanejo do país diria “ceva” no lugar de “champa”, mas na temática universitária...

balão no namorado
Desliga o celular
Pode vim, vem festar

tudo programado no apê do Guarujá
Hoje não vai prestar 

O churrascão vai comer solto
A "champa" não pode faltar
Liga pra quatro ou cinco amigas
Traz o biquini
Que hoje o sol tá de rachar 

As mina pira, pira
Toma tequila
Sobe na mesa
Pula na piscina
As mina pira, pira
Entra no clima
fácil de pegar
Pra cima!

“Apê” no Guarujá com piscina e tudo mais, chapanhe em churrasco, celular, de fato tudo isso é temática que não conseguiria ser encaixada em alguma letra do sertanejo que fazem Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Bruno e Marrone. E muito distante do que fizeram Matogrosso e Mathias, Milionário e José Rico e João Mineiro e Marciano.

Mas daí rotular como universitário este "ideal de vida" há uma enorme distância.

Mais correto seria rotular como ideal de vida universitária burguesa, e quem sabe alterar o nome do sub gênero para "Sertanejo Universitário Burguês", ou vai me dizer que você, universitário leitor segue este padrão de vida?

Seja como for, há que se reconhecer que além da temática, o linguajar também se aproxima dos jovens brasileiros do século XXI, como erros, gírias e chavões de domínio público que quando incorporados às letras das músicas, ganha instantaneamente a identificação de grande parte do público que "se vê" nas músicas que consome.

A própria dupla Fernando e Sorocaba, que diga-se de passagem tem no Sorocaba uma grande visionário do ramo sertanejo, dono de grande perspicácia, além de um grande empresário. Consigo identifica um padrão de comportamento em suas composições ao adaptar para o sertanejo, os modismos de nosso tempo.

Foi o que o levou a incluir a expressão "Paga pau" pela primeira, e única vez, em uma letra de música há coisa de 6 anos e fazer o hit virar sucesso nacional.

O mesmo acontece com "as mina pira" que ele tão bem adaptou numa levada rápida e gostosa que, já com sucesso retumbante, contribuiu para manter a dupla no topo. Além do título, expressões como “pegar”, para designar o relacionamento amoroso casual e fugaz entre um homem e uma mulher, também faz parte do linguajar do jovem atual.

Este tipo de música é, portanto, uma fórmula seguida por vários artistas, muitos deles cujas carreiras vão se resumir a uma única música (duas ou três no máximo) que surgem com status de ídolos sertanejos na mesma velocidade que desaparecerão.

Uma fórmula que ao meu ver, esgotou-se e sofre com a falta de capacidade de renovar-se, de se reinventar.

Na minha opinião, o sertanejo universitário é um gênero estagnado que derrapa para tentar sair do lugar (comum) em que se encontra.


Mas sobre isso eu falo amanhã.

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