Que eu me lembre, em duas ocasiões eu
estudei com estrangeiros.
A primeira foi na graduação em História, na
Unesp de Franca com um Caboverdiano chamado José Luís. Ele não estava na minha
turma, apenas cursava uma disciplina, que não recordo qual, com a gente.
Ao ver seu sotaque português de Portugal
arrastado, perguntei-lhe a origem e ele respondeu com o sotaque mais carregado
ainda:
- Cabo Verde.
E concluiu:
- Cabo Verde na África, não em Minas Gerais.
Eu sequer sabia que o arquipélago africano,
antiga colônia portuguesa tinha como homônima, uma cidade no interior das Minas
Gerais.
A outra oportunidade foi no Mestrado na
PUC/SP, quando estudei com um Moçambicano chamado Remane, com quem pude ter uma
boa amizade e aprender muito sobre seu país.
História, política, curiosidades, cultura,
tudo era motivo para eu aprender sobre essa ex colônia portuguesa na África
Oriental que adora o Brasil e tem vínculo muito forte com a PUC/SP.
Infelizmente não pude estar presente na
ocasião em que um amigo de sala em comum o levou para assistir a um jogo do
Timão e batizar-se Corinthiano.
Dentre as boas histórias que me contava, uma
delas tinha status de folclore, sem comprovação testemunhal, porém contada por
todos moçambicanos que estudam na PUC/SP.
Dizia que a primeira leva de estudantes de
Moçambique a cursar mestrado na PUC/SP, procuraram certa vez o departamento
financeiro para saber como proceder para pagar a mensalidade.
Acontece que "mensalidade" no português
moçambicano é "propina", e mal sabia os estudantes africanos que no
Brasil, "propina" é "Quantia em dinheiro
que se oferece a alguém em troca de favor ou benefício quase sempre
ilícito". Algo ilegal, passível de punições como processo e prisão.
Ocorre que a moça da
tesouraria não sabia que "propina" era "mensalidade" para
eles e ao ser questionada como eles deveriam pagar a propina, respondeu que na
PUC não tinha de pagar propina.
Felizes pela informação
da jovem, os estudantes dedicaram-se exclusivamente aos estudos.
Alguns meses depois são
chamados na tesouraria para um assunto "delicado": falou um chefe da
repartição sobre a ausência do pagamento das mensalidades.
Quiseram saber o que
era mensalidade e entenderam que era o mesmo que propina:
- Mas a moça disse que
não tinha que pagar propina!
E então o mal entendido
foi esclarecido.
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