Nem a quaresma é mais como era antigamente.
Antigamente, o período que vai do carnaval à
sexta feira santa era povoado por sortilégios variados.
Lendas envolvendo lobisomens, mulas sem
cabeça, assombrações pipocavam nesta data. Xingar era proibido durante a
quaresma sob o risco de aparição do próprio “coisa ruim”.
Brincadeiras de rua? Algumas proibidas,
outras terminadas mais cedo, antes da noite cair.
Eu, então católico por parte de mãe, cresci
convivendo com estas histórias sobretudo contadas por minha avó. Por parte de
pai, cresci tendo-o como exemplo de tratamento respeitoso à tradição.
Tradição que hoje em dia não tem mais.
De tudo o que convivi na infância, ficaram
apenas as penitências auto impostas pelos fiéis, por razões religiosas e não
supersticiosas, como não comer carne às sextas feiras, ou provar-se ao longo de
toda a quaresma de algo que goste de comer o fazer.
Eu por exemplo já decidi: vou ficar a
quaresma inteira sem comer jiló e couve flor.
Nos tempos atuais, apenas a sexta feira
santa permanece como uma reserva da tradição. E ela própria mudou bastante nos
últimos anos.
Antigamente não era apenas a carne a única
proibição - o que permanece nos dias atuais. Na sexta santa, não se mexia com
facas, nem fazia a barba ou penteava o cabelo, não varria a casa e uma série de
outras ações que demonstrasse respeito à tristeza do dia, pela morte de Jesus.
Não acredito que a transformação da
sociedade nos leve à barbárie a ponto de alguém organizar um porco no rolete
numa sexta feira santa, mas acredito que a cada ano que passa, menos pessoas
veem sentido na simbologia que envolve a data.
Direito das pessoas, porém um mínimo de
respeito sempre deve existir.
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