Nos dias em que não ia ao carnaval, ficava em casa assistindo a tudo. Nos dias em que ia, assistia ao compacto do dia seguinte.
Por influência paterna, era mangueirense.
São Paulo na época, o desfile era tão fraquinho que a Globo nem exibia.
Quando começou exibir, adotei a Vai Vai como minha escola preferida; substituída anos depois, por razões afetivas óbvias, pela Gaviões da Fiel.
Mas já nem era tão ligado assim no desfile das escolas.
Aí veio o choque da realidade: a origem do dinheiro que abastece tais escolas.
Não apenas o dinheiro dos patrocínios, inclusive público (aliás, quando ficamos sabendo que o Prefeito de Petrópolis cancelou o carnaval e batemos palma - embora quando aqui se fazia isso criticava-se - não informaram que ele cancelou a verba destinada ao desfile das escolas de samba locais, o carnaval popular não foi cancelado) que abastassem as escolas, também e principalmente o dinheiro sujo, proveniente do jogo do bicho, umbilicalmente ligado ao narcotráfico carioca.
Aí parei de torcer.
Principalmente depois que a bateria da Mangueira tocou numa festa em homenagem ao casamento de Fernandinho Beira Mar.
E os enredos depois disso só me atraíram na medida em que abriam brechas para usá-los em sala de aula, como o da União da Ilha deste ano, cujo tema foi São Vinícius de Moraes, que neste ano completa 100 anos de seu nascimento.
Aliás, foi a única escola a se lembrar da data.
Penso que todas as escolas deveriam ter homenageado-o, a exemplo dos 500 do Brasil no ano 2000.
Seria uma boa maneira de reviver uma ideia do poetinha:
Certa vez, seu parceiro Toquinho lhe fizera uma música para homenagear (só a harmonia) o poetinha. Vinícius gostou do tema e sugeriu que Toquinho enviasse a todos os grandes compositores do país para que cada um fizesse uma letra homenageando-o e ele, Vinícius, escolheria qual teria ficado melhor.
Toquinho não se atreveu a dar ouvido à megalomania do parceiro e enviou o tema para Chico Buarque, que prontamente providenciou a letra da canção "Samba para Vinícius".
O poetinha leu a letra, ouviu a canção e decidiu: "Acho que vou ficar com essa mesmo, não precisa enviar pra mais ninguém não".
Nem teria como não gostar de uma letra escrita por Chico Buarque.
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