Eu
me permito, com muita propriedade e segurança, analisar a questão da Educação
pública Ipuanense, no âmbito municipal (Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Educação Especial) como uma Educação carregada de boas intenções, que vem ao
longo dos anos conseguindo importantes avanços porém, sofrendo com o problema
quase crônico da educação pública no nosso país da necessidade de uma
reestruturação curricular.
Antes
de adentrar a raiz da questão, permita-me apenas uma breve explanação sobre o
que é currículo.
Currículo
vem do latim, currere; e significa
“caminho”, “percurso”, “trajeto”.
Em
Educação, currículo é, resumidamente, o trajeto que o ensino percorre para
chegar na aprendizagem: os objetivos, as estratégias, os meios,...
Ou
se preferir, currículo é o campo da Educação responsável por responder questões
a ela inerentes tais como: O que ensinar? A quem ensinar? Como ensinar? Quando
ensinar? Para que ensinar? Como aferir o ensino?
Na
história recente de nossa cidade, nunca tivemos uma política educacional
voltada para uma organização curricular. Nenhum gestor de Educação preocupou-se
com tal questão a ponto de torná-la prioridade em sua gestão.
E
ao fazer mea culpa, ressalvo que em alguns momentos à frente do Depto de
Educação cheguei a de fato tomar algumas iniciativas nesse sentido, embora a
época não soubesse que assim o estava fazendo e ainda, me faltava o aporte
teórico necessário.
Mas
ao reestruturar nosso EJA, ao mexer em algumas disciplinas e aparelhar escolas
de maneira planejada, foram talvez as únicas vezes em que o currículo esteve em
primeiro plano na educação ipuanense, repito, ainda que sem embasamento
teórico.
Nem
a introdução das apostilas há 10 anos podemos afirmar que foi uma ação
curricular planejada. Muito embora o material didático seja um importante
elemento curricular, veio apenas massificar nosso ensino.
Ao
adotar um material produzido em larga escala, sem a participação dos
professores e coordenadores da nossa cidade descaracteriza a educação no que
ela tem de mais rico e significativo: a individualidade.
À
parte os componentes básicos que toda escola deve ensinar, existem questões
regionais, que são diferentes entre as cidades, bairros e escolas, e isso o
material apostilado simplesmente desconsidera. A empresa, ao vender sua
apostila, nivela todas as cidades “parceiras”.
E
quem conhece apostila sabe que há raros espaços para se trabalhar as
vicissitudes de cada escola, série ou sala. A empresa com um “chicote nas mãos”
cobra o pleno e exatamente como está na “cartilha”, o individual, típico ou
específico, apenas se houver tempo.
Apostilas
desconsideram, por exemplo, a boa tradição da nossa cidade em participações no
“Projeto EPTV na Escola”.
Por
que não ter um material didático onde no 9° ano do Ensino Fundamental, haja
durante o 2° bimestre, conteúdos voltados para a elaboração de textos?
Já
que nessa série e bimestre os alunos das nossas escolas estão envolvidos com o
projeto, e a cidade nunca mediu esforços para isso, nada melhor que a apostila
contribuir.
Mas
o cumprimento do material apostilado fez com que muitas vezes os professores se
dispusessem, por vontade e interesse próprios, a utilizar horários fora da sala
de aula para orientar melhor os alunos participantes.
Outro
exemplo que cito é a Educação Física. Nenhuma apostila utilizada na cidade,
inclusive a tão aclamada daquela famosa empresa, tratou essa importante
disciplina com o devido respeito. Pouco caso com a única disciplina que traz
“Educação” em seu nome.
Essa
disciplina deveria ser utilizada nas escolas também
como porta de entrada da cultura de valorização do corpo e da mente (mens sana in corpore sano), da
importância da prática esportiva na qualidade de vida, podendo até fazer
incursões sobre hábitos alimentares, má postura etc...
Por
que tem de ser apenas futsal, vôlei e handbol?
Sei
que há professores de Educação Física que fazem isso em suas aulas, e o fazem
por contra própria quando tais ações deveriam fazer parte da política pública
de Educação para a disciplina.
Os
exemplos citados foram apenas alguns das infinitas possibilidades que o currículo
educacional nos apresenta para discutir as questões fundamentais da Educação e
a melhor maneira de resolvê-las.
Não
acredito em melhoria na qualidade de Educação pública sem uma completa e
participativa reestruturação curricular.
Amanhã:
Questão salarial.