terça-feira, 19 de abril de 2016

Ainda o Impeachment


A esquerda em frangalhos
Por Gabriel Ogata*

Com o processo de impeachment votado por 2/3 dos deputados, resta agora a decisão do senado, presidido pelo incógnito Renan Calheiros. Segundo o próprio, o andamento não deve ser tão imediato. Tudo indicar que a saída do PT do poder se sacramentará, mas daí surge a dúvida: será mesmo que o problemas urgentes do Brasil serão resolvidos com a queda da presidente?
A votação do Impeachment comprova que tanto mudanças quanto as continuidades no Brasil foram lideradas por um grupo seleto, restando ao povo o papel secundário. Foi assim em 1822, em 1889, em 1930 e no tenebroso 1964. Um espetáculo medonho e torturante ouvir cada deputado justificando o voto com discursos chulos com ares de hipocrisia religiosa. Deve ser porque durante o ano a garganta deles quase não trabalha.
José Murilo de Carvalho usou para a Proclamação da República o termo 'bestializado' para definir a população carioca como mera telespectadora da ação encabeçada por Deodoro da Fonseca. Para 2016 o termo tem outro significado: fanáticos que defendem e atacam com unhas e dentes literalmente seus ideais. Pelo menos a política de bons perdedores entre militantes ainda prevalece.
Notoriamente a situação governista está insustentável, mas não se pode esfriar a luta. A dupla dinâmica que está doida para assumir caso a presidente saia é tão incompetente quiçá mais condenável que ela. Existe um trâmite, ainda não confirmado, de que a Temer e Cunha estão manobrando a lava-jato para arquivar denúncias pós-Impeachment. Ou seja, apertariam o botão ‘reset’ da investigação, aí nem Zelda aguentaria de tanta fase.
Dependendo das novas artimanhas, Bolsonaro, Feliciano, Malafaia e Maluf serão promovidos. E o resultado desse seleto grupo no poder significa uma nova idade Média no Brasil com ares de militarismo. Bom de quem acredita não ter havido corrupção de Castelo Branco e Figueiredo não é mesmo?
Mas não é somente o PT que está naufragando ao som de um melancólico Titanic: o projeto de esquerda na América Latina definha de forma gradativa, após quase duas décadas de projetos sociais envoltos a fracassos econômicos, desvios exorbitantes e tentativas de calarem os meios de comunicação.
Nicolas Maduro ainda tenta remendar a constituição venezuelana após a derrota nas urnas; Maurício Macri sepulta as ideias populistas de Cristina Kirchner dia após dia; Evo Morales perdeu o direito de concorrer a mais uma eleição em um plebiscito. Rafael Côrrea no Equador é a última esperança. E Fidel Castro? Deve estar fazendo bico até hoje pela visita de Obama a Cuba.

*Gabriel Ogata entende do que fala; como poucos.

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