A esquerda em frangalhos
Por
Gabriel Ogata*
Com o
processo de impeachment votado por 2/3 dos deputados, resta agora a decisão do
senado, presidido pelo incógnito Renan Calheiros. Segundo o próprio, o
andamento não deve ser tão imediato. Tudo indicar que a saída do PT do poder se
sacramentará, mas daí surge a dúvida: será mesmo que o problemas urgentes do
Brasil serão resolvidos com a queda da presidente?
A votação do Impeachment comprova que tanto
mudanças quanto as continuidades no Brasil foram lideradas por um grupo seleto,
restando ao povo o papel secundário. Foi assim em 1822, em 1889, em 1930 e no
tenebroso 1964. Um espetáculo medonho e torturante ouvir cada deputado
justificando o voto com discursos chulos com ares de hipocrisia religiosa. Deve
ser porque durante o ano a garganta deles quase não trabalha.
José Murilo de Carvalho usou para a Proclamação
da República o termo 'bestializado' para definir a população carioca como mera
telespectadora da ação encabeçada por Deodoro da Fonseca. Para 2016 o termo tem
outro significado: fanáticos que defendem e atacam com unhas e dentes
literalmente seus ideais. Pelo menos a política de bons perdedores entre
militantes ainda prevalece.
Notoriamente a situação governista está
insustentável, mas não se pode esfriar a luta. A dupla dinâmica que está doida
para assumir caso a presidente saia é tão incompetente quiçá mais condenável
que ela. Existe um trâmite, ainda não
confirmado, de que a Temer e Cunha estão manobrando a lava-jato para arquivar
denúncias pós-Impeachment. Ou seja, apertariam o botão ‘reset’ da investigação,
aí nem Zelda aguentaria de tanta fase.
Dependendo das
novas artimanhas, Bolsonaro, Feliciano, Malafaia e Maluf serão promovidos. E o
resultado desse seleto grupo no poder significa uma nova idade Média no Brasil
com ares de militarismo. Bom de quem acredita não ter havido corrupção de
Castelo Branco e Figueiredo não é mesmo?
Mas não é
somente o PT que está naufragando ao som de um melancólico Titanic: o projeto
de esquerda na América Latina definha de forma gradativa, após quase duas
décadas de projetos sociais envoltos a fracassos econômicos, desvios
exorbitantes e tentativas de calarem os meios de comunicação.
Nicolas Maduro
ainda tenta remendar a constituição venezuelana após a derrota nas urnas;
Maurício Macri sepulta as ideias populistas de Cristina Kirchner dia após dia;
Evo Morales perdeu o direito de concorrer a mais uma eleição em um plebiscito.
Rafael Côrrea no Equador é a última esperança. E Fidel Castro? Deve estar
fazendo bico até hoje pela visita de Obama a Cuba.
*Gabriel Ogata entende do que fala; como
poucos.
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