Dias atrás, uma tarde preguiçosa em casa,
deitado na cadeira de alpendre que tenho estrategicamente na sala, sou
interpelado pela minha sobrinha pedindo que queria assistir a desenhos na TV.
Procuro canais de desenho na TV, mostrando
um pouquinho de cada um até que ela escolhe uma animação da Disney intitulada
"A Princesa e o Sapo".
Inevitavelmente, e a contra gosto, tenho de
assistir junto.
Até que na metade do desenho, ela cisma de
ir embora pra casa.
Telefono para a mãe da menina que vem
buscá-la.
Ao despedir-me, vou mudar o canal ou
desligar a TV e eis que acontece um fato interessante, sem precedente na
história da humanidade: Eu quero saber como termina a história dos dois sapos,
outrora dois belos jovens, ele um príncipe; ela, uma garota pobre com o sonho
de se tornar dona de restaurante e que acabaram transformado em sapos por um
bruxo maligno.
E assim assisti, após muitos anos, a uma
animação da Disney outra vez.
Ontem aconteceu algo semelhante.
A mesma sobrinha, o mesmo canal, apenas o
filme que era outro: Rapunzel.
Sobrinha se distrai com outra coisa e eu
fico assistindo ao desenho para saber se a Rapunzel reencontrará seus pais
verdadeiros, se o José é ou não mau caráter e principalmente, o que acontecerá
com a Bruxa.
Estas duas histórias me fazem relembrar um
episódio de aproximadamente 13 anos atrás...
Manhã de domingo (bem cedo), eu dormindo de
ressaca pois havia caído na gandaia na noite anterior, sou acordado por um sobrinho,
que me dizia a seguinte frase:
- Eu té au au.
O "té" era o verbo querer; e
"au au" era o nome que ele, com aproximadamente 2 anos, denominava o
filme "101 Dálmatas".
Apertando a tecla SAP: "Eu quero
assistir ao filme dos 101 Dálmatas".
Levanto mal humorado (coisa rara) e vou até
o vídeo cassete...
Abre parênteses:
Vídeo Cassete é o pai do DVD, usava-se fitas
e não DVD e demorava uma eternidade para voltar a fita ao começo (que a gente
chamava de “rebobinar”).
Não tinha seleção de cenas nem de capítulos.
Fecha parênteses.
... coloco a fita e ele senta para assistir.
A fita já estava no meio, certamente deveria
ter começado a assistir, pela milésima vez, na noite anterior, e dormira antes
do término.
Como nunca havia assistido, deixo a fita
rodando a partir dali e volto para meu sono.
Como o moleque conhecia o filme de cor e
salteado, quando chegava às cenas próximas do final, ele chorava porque sabia
que o filme estava preste a terminar.
Tínhamos então que rebobinar a fita para ele
assistir novamente.
Naquele dia, enquanto rebobinava, ele
chorava imaginando que eu não queria colocar o filme pra ele, o que me fazia
não rebobinar até o fim, mas parar no meio (ou quando o choro já estivesse
insuportável) para que ele parasse e assistisse novamente.
Ficamos no seguinte "moto
contínuo" a manhã toda:
O desenho se aproximava do final - ele
chorava - eu rebobinava para que o filme durasse mais tempo - ele chorava - eu
apertava o play - ele ficava quieto e assistia - o filme se aproximava do final
- ele chorava - ...
E pior... eu tinha que assistir junto.
Já não aguentava mais, principalmente porque
odeio cachorro, o que me fez desejar com todas as minhas forças que uma força
divina intercedesse em meu favor e mudasse o final do desenho, de modo que a
Cruela conseguisse o seu intento, costurando um maravilhoso casaco de pele
malhado com a pele dos adoráveis cachorrinhos.
Pena que não fui atendido.
E tem gente que não entende minha falta de
fé.
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