terça-feira, 1 de julho de 2014

Obrigado Joaquim Barbosa.

Peguemos nossa máquina no tempo e voltemos 60 anos.

Mais precisamente no ano de 1954.

Mais precisamente ainda na cidade mineira de Paracatu.

Na modesta casa dos Barbosa Gomes, nascia o primeiro filho do casal: Joaquim Benedito.

Negro, como o santo que leva em teu segundo nome, filho de trabalhadores humildes e honrados. Em outras palavras: a essência do povo brasileiro.

Imagine que algum dos viajantes do tempo diga ao casal que este menino, recém nascido, será no futuro um advogado, Procurador da República, Jurista, Professor no Brasil e no Exterior, Ministro do STF.

A família não acreditaria.

E com razão.

Em um país onde ainda hoje a discriminação racial existe (velada, mas existe), onde as oportunidades aos menos favorecidos são escassas, imaginem nos idos dos anos 60 e 70 as dificuldades do jovem Joaquim para vencer na vida?

Não deve ter sido fácil, mas fato é que venceu.

E hoje, em um país onde o senso comum trata a injustiça e a impunidade como marcas do sistema judiciário, era de se esperar que uma figura contra hegemônica como Joaquim Barbosa ganhasse status de herói nacional.

Apesar de ele próprio recusar o título dizendo-se um "barnabé".

No fundo ele fez o que todos nós queríamos: ver justiça sendo feita pelo menos uma vez na vida, fazendo pagar com a liberdade quem sempre nos oprimiu.

Razão pela qual teu nome aparecia entre os presidenciáveis sem sequer ser candidato. Uma clara e legítima manifestação popular.

Declinou dos pedidos da voz rouca das ruas apesar da chance de ser nossa versão tupiniquim do Barak Obama.

Longe de ser unanimidade, Joaquim Barbosa é alvo dos mais diretos ataques e mais recentemente ameaças de morte.

Graças ao jeito pouco polido com que trata colegas e a falta de corporativismo com que trata questões inerentes à magistratura e carreira jurídica (questionando dogmas, criticando atitudes e expondo mazelas), além do fato de ter colocado atrás das grades a fina flor dos políticos petistas.

Alegria para uns, tristeza para outros, Barbosa deixa o STF ainda este mês.

Para não ser presidido pelo desafeto Min Ricardo Lewandowski? Por não aceitar viver em um STF cada vez mais politizado? Pelo sentimento de missão cumprida? Por saber que muito mais teria a fazer (tem muito político solto neste país ainda) e não saber se conseguiria? Para cuidar das dores que lhe flagelam a coluna?

Ou a resposta oficial de que o STF necessita de renovação? Que ele próprio diz que mandato de Ministro deveria durar 12 anos apenas.

Seja qual motivo for, Joaquim Barbosa sairá da história para entrar na vida.

Boa sorte e muito obrigado.

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974.

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