domingo, 7 de abril de 2013

Educação de Tempo Integral.


No 1° domingo deste mês, segue abaixo reflexões sobre Educação de Tempo Integral (ETI).

 
Educação ou Escola de Tempo Integral?

Há uma diferença muito grande nestes dois conceitos.

A Escola de Tempo Integral pressupõe apenas a ocupação do tempo dos alunos com atividades promovidas nos período contrário ao período de estudos.

Nada que projetos sociais ou escolinhas esportivas não o faça.

O uso destas escolas serve apenas para trazer para o âmbito da educação, os gastos anteriormente pertencentes a outras áreas, com orçamento muito menor, da política pública, como esporte e assistência social.

Já a Educação de Tempo Integral, pressupõe que as atividades oferecidas aos alunos devem estar em consonância com a Proposta Pedagógica da Escola e a política pública educacional.

Há que se ressaltar que em uma Educação de Tempo Integral a concepção de currículo deve ser crítico-emancipadora.

Entendemos Educação Integral dentro de uma concepção crítico-emancipadora em educação. Na prática, ela eclode como um amplo conjunto de atividades diversificadas que, integrando o e integradas ao currículo escolar, possibilitam uma formação mais completa ao ser humano. Nesse sentido, essas atividades constituem-se por práticas que incluem os conhecimentos gerais; a cultura; as artes; a saúde; os esportes e o trabalho. Contudo, para que se complete essa formação de modo crítico-emancipador, é necessário que essas práticas sejam trabalhadas em uma perspectiva político-filosófica igualmente crítica e emancipadora (HORA; COELHO, 2004, p. 9).

Por esta proposta, as atividades oferecidas devem estar integradas às disciplinas comuns da grade curricular, unindo por exemplo atividade física com saúde e bem estar, música com matemática, reforço escolar diferenciado.

Para ser considerada de tempo integral, uma escola deve promover uma educação que contemple os alunos, com pelo menos 7 horas diárias, com atividades educacionais (além das disciplinas comuns da grade, o reforço), atividades artísticas e esportivas.

É preciso promover a aplicação dos conteúdos na prática, em uma educação que extrapole o ambiente escolar de aprendizagem, com o fomento à organização dos alunos em grupos teatrais do baixo, ONGs, associações estudantis, organização de torneios escolares (esportivos e culturais) entre salas e mesmo entre as escolas.

Uma perspectiva integral de educação, cuja concepção do sujeito seja por inteiro, inserido na sua realidade (GONÇALVES, 2006, p.8).

Mas não basta apenas ampliar o tempo na escola para que a mesma seja classificada como de ETI. Por isso tenho inúmeros questionamentos sobre a EMEF da cidade que supostamente oferece esta modalidade de ensino.

Como não basta também promover viagens, que mais prestam ao serviço de entretenimento e diversão (o que também tem seu valor, mas não é o caso) que ao caráter didático-pedagógico; aulas de reforço idênticas às aulas do dia a dia; etc...

Em se tratando de escola, a ETI não pode almejar outro benefício que não seja a melhoria da qualidade do ensino oferecido.

Mas de qual benefício estamos falando? E principalmente, como alcançá-lo?

Acreditar que a simples ampliação do horário por si só melhora a qualidade do ensino é uma ideia comum e completamente equivocada.

Seria a mesma coisa que ter uma comida estragada e ainda insuficiente para um grupo de pessoas e imaginar que o fato de aumentar a quantidade desta comida, estragada, mataria a fome de todos.


A ETI em Ipuã.

A Educação de Tempo Integral em nossa cidade é uma realidade ainda muito distante.

Temos uma escola, cuja idealização e início das obras datam da nossa gestão à frente da Educação Ipuanense que atende, nos períodos contrários, aos alunos da EMEF Prof. Monir Neder, no Bairro Santa Cruz.

Mas chamar aquela escola de Escola de Educação de Tempo Integral (ETI) é um equívoco muito grande. O que ela promove é um rol de atividades oferecidas aos alunos que a freqüentam em períodos contrários.

Para que fique bem claro, antes que meu discurso seja (mal) interpretado, por ignorância ou má fé, a referida escola presta um serviço exemplar aos alunos daquela localidade, promovendo atividades nos contraturno da escola situada em um baixo de média e baixa renda onde as oportunidades de lazer, esporte e cultura são escassas.

Minha questão é curricular.

O currículo de uma escola cuja Educação seja oferecida em tempo integral deve ser mais que o simples oferecimento de atividades aos alunos.

Tem de partir do pressuposto de atender às necessidades dos alunos locais, perguntando-lhes quais atividades esportivas eles gostariam de praticar e aproveitando a cultura local para inserir na grade curricular, atividades tradicionais na localidade.

Nesse aspecto a Escola ipuanense acertou em inserir na grade a disciplina capoeira, tradicionalmente praticada no Bairro Santa Cruz por grupos ali radicados há mais de 20 anos.

Apesar de enaltecer o trabalho que vem sendo desenvolvido naquela escola, vários questionamentos de ordem legal (que não será tratado aqui) e curricular (este sim, fulcro de minhas considerações) vêm à tona:

1. Porque monitores e não professores?
2. O concurso de ingresso promove uma boa avaliação?
3. Há formação continuada dos profissionais? (gestores, professores e monitores).
4. Há previsão de realização de avaliação do projeto?

São questões que coloco não para serem respondidas, mas para serem pensadas e/ou repensadas.

Dificuldades e Soluções.

Como ex Diretor do Depto de Educação, conheço bem as dificuldades que envolvem a criação de escolas de Educação de Tempo Integral em nossa cidade.

Sobretudo porque os prédios aqui construídos não comportam grandes adequações para que tal modalidade de ensino seja utilizada.

Há ainda a questão curricular que certamente necessitaria de empresa especializada para realizar a construção de uma proposta educacional verdadeiramente integral em nossas escolas de ETI.

Tudo isso requer um esforço de recursos financeiro, intelectual, de engenharia e logística.

Mas não proponho, nem teria como ser diferente, que tudo seja feito pela atual administração, mas que uma semente seja plantada e cultivada pelas administrações que a suceder.

Esta semente tem até nome: política pública de educação. Que nasce fruto da discussão política entre os poderes e os diferentes setores da comunidade escolar e acadêmica.

E como sou intrometido, segue abaixo algumas sugestões:

1. A adequação das Escolas.
Não precisa ser necessariamente das escolas, uma vez que a EIT pode ser realizada em outros ambientes como uma praça esportiva próxima à escola, Casa de Cultura, salões comunitários,... Basta incentivar o uso destes espaços incrementando atividades.

No próprio Bairro Santa Cruz, próximo a EMEF Monir Neder há um conjunto poliesportivo inacabado que poderia ver a viabilidade do término de sua construção com recursos da educação para que seja utilizado  como espaço esportivo da escola para atividades de ETI.

2. Gestão democrática nas escolas de ETI.

3. Plano Nacional de Educação.
Em votação no Congresso um plano que prevê a expansão das escolas de ETI no país, com recursos a serem destinados para construção, ampliação, reforma e  adequação.

4. Questão curricular:
- Divisão das turmas no contraturno por estágio de aprendizagem.
- Pesquisa entre os alunos para conhecer seus interesses esportivos e culturais.
- Ensino por oficinas.
- Contratação de professores.
- Capacitação em serviço dos profissionais.

Esta é, por hora, a minha contribuição.

Referências:

HORA, D. M. e COELHO, L. M. Diversificação curricular e Educação Integral. 2004, p. 1-18.

GONÇALVES, A.S. Reflexões sobre educação integral e escola de tempo integral. Cadernos Cenpec n.º 2 – Educação Integral – 2º semestre 2006.

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