No 1° domingo deste mês, segue abaixo reflexões sobre Educação de Tempo Integral (ETI).
Educação ou Escola de Tempo Integral?
Há uma diferença muito
grande nestes dois conceitos.
A Escola de Tempo Integral
pressupõe apenas a ocupação do tempo dos alunos com atividades promovidas nos
período contrário ao período de estudos.
Nada que projetos sociais ou
escolinhas esportivas não o faça.
O uso destas escolas serve
apenas para trazer para o âmbito da educação, os gastos anteriormente
pertencentes a outras áreas, com orçamento muito menor, da política pública,
como esporte e assistência social.
Já a Educação de Tempo
Integral, pressupõe que as atividades oferecidas aos alunos devem estar em
consonância com a Proposta Pedagógica da Escola e a política pública educacional.
Há que se ressaltar que em
uma Educação de Tempo Integral a concepção de currículo deve ser
crítico-emancipadora.
Entendemos Educação Integral dentro de uma concepção
crítico-emancipadora em educação. Na prática, ela eclode como um amplo conjunto
de atividades diversificadas que, integrando o e integradas ao currículo
escolar, possibilitam uma formação mais completa ao ser humano. Nesse sentido,
essas atividades constituem-se por práticas que incluem os conhecimentos
gerais; a cultura; as artes; a saúde; os esportes e o trabalho. Contudo, para
que se complete essa formação de modo crítico-emancipador, é necessário que
essas práticas sejam trabalhadas em uma perspectiva político-filosófica
igualmente crítica e emancipadora (HORA; COELHO, 2004, p. 9).
Por esta proposta, as
atividades oferecidas devem estar integradas às disciplinas comuns da grade
curricular, unindo por exemplo atividade física com saúde e bem estar, música
com matemática, reforço escolar diferenciado.
Para ser considerada de
tempo integral, uma escola deve promover uma educação que contemple os alunos,
com pelo menos 7 horas diárias, com atividades educacionais (além das
disciplinas comuns da grade, o reforço), atividades artísticas e esportivas.
É preciso promover a
aplicação dos conteúdos na prática, em uma educação que extrapole o ambiente
escolar de aprendizagem, com o fomento à organização dos alunos em grupos
teatrais do baixo, ONGs, associações estudantis, organização de torneios
escolares (esportivos e culturais) entre salas e mesmo entre as escolas.
Uma perspectiva integral de
educação, cuja concepção do sujeito seja por inteiro, inserido na sua realidade
(GONÇALVES, 2006, p.8).
Mas não basta apenas ampliar
o tempo na escola para que a mesma seja classificada como de ETI. Por isso
tenho inúmeros questionamentos sobre a EMEF da cidade que supostamente oferece esta
modalidade de ensino.
Como não basta também
promover viagens, que mais prestam ao serviço de entretenimento e diversão (o
que também tem seu valor, mas não é o caso) que ao caráter didático-pedagógico;
aulas de reforço idênticas às aulas do dia a dia; etc...
Em se tratando de escola, a
ETI não pode almejar outro benefício que não seja a melhoria da qualidade do
ensino oferecido.
Mas de qual benefício
estamos falando? E principalmente, como alcançá-lo?
Acreditar que a simples
ampliação do horário por si só melhora a qualidade do ensino é uma ideia comum
e completamente equivocada.
Seria a mesma coisa que ter
uma comida estragada e ainda insuficiente para um grupo de pessoas e imaginar
que o fato de aumentar a quantidade desta comida, estragada, mataria a fome de
todos.
A ETI em Ipuã.
A Educação de Tempo Integral
em nossa cidade é uma realidade ainda muito distante.
Temos uma escola, cuja
idealização e início das obras datam da nossa gestão à frente da Educação
Ipuanense que atende, nos períodos contrários, aos alunos da EMEF Prof. Monir
Neder, no Bairro Santa Cruz.
Mas chamar aquela escola de
Escola de Educação de Tempo Integral (ETI) é um equívoco muito grande. O que
ela promove é um rol de atividades oferecidas aos alunos que a freqüentam em
períodos contrários.
Para que fique bem claro,
antes que meu discurso seja (mal) interpretado, por ignorância ou má fé, a
referida escola presta um serviço exemplar aos alunos daquela localidade,
promovendo atividades nos contraturno da escola situada em um baixo de média e
baixa renda onde as oportunidades de lazer, esporte e cultura são escassas.
Minha questão é curricular.
O currículo de uma escola
cuja Educação seja oferecida em tempo integral deve ser mais que o simples oferecimento
de atividades aos alunos.
Tem de partir do pressuposto
de atender às necessidades dos alunos locais, perguntando-lhes quais atividades
esportivas eles gostariam de praticar e aproveitando a cultura local para
inserir na grade curricular, atividades tradicionais na localidade.
Nesse aspecto a Escola
ipuanense acertou em inserir na grade a disciplina capoeira, tradicionalmente
praticada no Bairro Santa Cruz por grupos ali radicados há mais de 20 anos.
Apesar de enaltecer o
trabalho que vem sendo desenvolvido naquela escola, vários questionamentos de
ordem legal (que não será tratado aqui) e curricular (este sim, fulcro de
minhas considerações) vêm à tona:
1. Porque monitores e não
professores?
2. O concurso de ingresso
promove uma boa avaliação?
3. Há formação continuada
dos profissionais? (gestores, professores e monitores).
4. Há previsão de realização
de avaliação do projeto?
São questões que coloco não
para serem respondidas, mas para serem pensadas e/ou repensadas.
Dificuldades e Soluções.
Como ex Diretor do Depto de
Educação, conheço bem as dificuldades que envolvem a criação de escolas de
Educação de Tempo Integral em nossa cidade.
Sobretudo porque os prédios
aqui construídos não comportam grandes adequações para que tal modalidade de
ensino seja utilizada.
Há ainda a questão
curricular que certamente necessitaria de empresa especializada para realizar a
construção de uma proposta educacional verdadeiramente integral em nossas
escolas de ETI.
Tudo isso requer um esforço
de recursos financeiro, intelectual, de engenharia e logística.
Mas não proponho, nem teria
como ser diferente, que tudo seja feito pela atual administração, mas que uma
semente seja plantada e cultivada pelas administrações que a suceder.
Esta semente tem até nome:
política pública de educação. Que nasce fruto da discussão política entre os
poderes e os diferentes setores da comunidade escolar e acadêmica.
E como sou intrometido,
segue abaixo algumas sugestões:
1. A adequação das Escolas.
Não precisa ser
necessariamente das escolas, uma vez que a EIT pode ser realizada em outros
ambientes como uma praça esportiva próxima à escola, Casa de Cultura, salões
comunitários,... Basta incentivar o uso destes espaços incrementando
atividades.
No próprio Bairro Santa
Cruz, próximo a EMEF Monir Neder há um conjunto poliesportivo inacabado que
poderia ver a viabilidade do término de sua construção com recursos da educação
para que seja utilizado como espaço
esportivo da escola para atividades de ETI.
2. Gestão democrática nas
escolas de ETI.
3. Plano Nacional de
Educação.
Em votação no Congresso um
plano que prevê a expansão das escolas de ETI no país, com recursos a serem
destinados para construção, ampliação, reforma e adequação.
4. Questão curricular:
- Divisão das turmas no
contraturno por estágio de aprendizagem.
- Pesquisa entre os alunos
para conhecer seus interesses esportivos e culturais.
- Ensino por oficinas.
- Contratação de
professores.
- Capacitação em serviço dos
profissionais.
Esta é, por hora, a minha
contribuição.
Referências:
HORA, D. M. e COELHO, L. M. Diversificação
curricular e Educação Integral. 2004, p. 1-18.
GONÇALVES, A.S. Reflexões
sobre educação integral e escola de tempo integral. Cadernos Cenpec n.º 2 –
Educação Integral – 2º semestre 2006.
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