segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Primeiro jogo

Terminadas as obras no Estádio “Orandes Carlos da Rocha”, era chegada a grande hora: o primeiro jogo.

Tudo tinha de sair perfeito no jogo inaugural: uniformes, chuteiras (sem cravo), céu azul, sol fraco, uma brisa suave, cerveja gelada e descansada no freezer e apenas 14 amigos para o jogo (7 para cada lado, 1 no gol e 6 na linha), para que ninguém ficasse de fora.

E foi justamente na divisão dos times que a perfeição insistiu em não comparecer.

Para não haver discussões evitamos o famoso “par ou ímpar” e a consequente escolha dos jogadores de cada time.

Foi substituído por outro algoritmo racional, que pudesse dividir os 14 membros em dois grupos de 7, com equivalência futebolística que permitisse um jogo bem disputado, sem o risco de haver disparidade entre as equipes montadas.

Como somos seres racionais dotados de intelecto, usamos o velho sistema de “Casados x Solteiros”.

Estávamos no círculo do meio campo e após a definição do critério “estado civil”, os Casados se dirigiram para um lado do campo, os Solteiros para o outro.

- Só tem um problema. Comentou um dos 3 que permaneceram no centro do campo.

- Eu estou divorciando, em qual time jogo? Concluiu.

Antes que alguém respondesse, o outro emendou:

- Estou amigando, jogo 1 tempo pra cada time?

O outro nem sabia ao certo qual era seu atual estado civil.

Ao vermos que usar estado civil não daria certo, tentamos outras variáveis. 

Religião: 

Ideia sem sucesso, tivemos 4 times: Católicos, Espíritas, Evangélicos e Agnósticos.

Posicionamento político:

Ledo engano achar que o maniqueísmo DireitaxEsquerda ainda existe.

Houve de tudo: Centro, Centro Esquerda, Centro Direita, Anarquista e alguns do PSD, que o próprio presidente do partido, Gilberto Kassab, disse na fundação do partido “não ser um partido de esquerda, nem de direita e nem de centro”.

- Que tal Fumantes X Não Fumantes?. Sugeriu um dos jogadores.

- Bom eu estou tentando parar, jogo pra quem?

- E eu que só fumo de vez em quando?.

- Eu fumo mas não trago.

- Mas aqui é bom trazer, ninguém vai serrar o meu não.

- É “trago” do verbo tragar, não do verbo “trazer”.

- Ah bom!

Também não deu certo.

Talvez na preferência cervejística: Brahma x Skol.

Mas houve quem preferisse Original e até Lecker. Fora um ou outro abstêmio.

Tentamos de tudo e nada houve simetria:

* Caetano x Chico.

* Senna x Piquet.

* Sertanejo Raiz x Universitário.

* Salmora x Sal Grosso.

* Adidas x Nike.

* Neymar x Messi (ficou apenas 1 jogador no time do Neymar).

Uma ideia que chegou a animar os jogadores foi usar como critério a primeira letra dos nossos nomes, ficando as equipes definidas como Consoantes x Vogais.

Após a empolgação inicial, lembraram que havia um jogador cujo nome era Hamilton, o que gerou discussão entre os demais jogadores.

O grupo se dividiu entre os partidários de que “H” não é nem uma coisa nem outra, pois pode ser vogal, em casos como “Hugo” e “Higino”; e também consoante, em casos como “Harrison” e “Howard”; contra os partidários de que a letra agá é sim consoante, pois a “tia” ensinou que as vogais eram “a-e-i-o-u”.

Após alguns minutos de discussão, sem resultado conclusivo, estabeleceu-se que, para efeito daquela partida, a letra “H” seria vogal quando tivesse som do vogal e consoante, quando tivesse som de consoante.

- Beleza, o Hamilton joga para os vogais!!!

- Só tem um problema galera!

- Ihhhhhhhh. Chiaram todos.

- Como se pronuncia Hamilton?

Houve nova discussão em torno da pronúncia, com a divisão dos jogadores entre aqueles que entendiam que a pronúncia correta era “Amílton” e os que achavam que era “Rémilton”, como o piloto da F1. O que trouxe de volta a discussão sobre "agá" ser vogal ou consoante.

- E se tentássemos o seguinte: Nascidos em dia Par x nascidos em dia Ímpar?

Houve uma divisão de 7 jogadores para cada lado.

Surpresa!

Aleluia!!! Havíamos achado um sistema racional de divisão de equipes, capaz de dividir em partes iguais e com paridade na categoria futebolística entre os membros de cada time.

Pena que era tarde demais, o sol já havia se escondido e não dava mais pra jogar.

Perdemos tempo dividindo os jogadores e esquecemos do principal.

Sorte que tínhamos a cerveja!

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