domingo, 5 de fevereiro de 2012

Nos palanques da vida.

Campanha eleitoral em Ipuã é quase uma guerra!
E no vasto campo das estratégias, vigiar o adversário em busca de um flagrante de ação ilegal é uma prática recorrente.
De ambas as partes.
Um vigia o outro com o objetivo de que, com o flagrante, venha a punição.
Foucault a serviço da política.
Corria o ano de 2004 e recebemos uma informação de que a administração da época, da qual éramos oposição, estaria distribuindo cestas básicas à luz do dia, disfarçadamente como ação assistencial.
Acontece que a distribuição de cestas básicas por parte do Departamento responsável é ação legal, desde que feita a triagem, constatada a necessidade e a pessoa retira no Departamento um vale que é trocado pela cesta no supermercado designado.
Até aí normal.
Mas o que estava ocorrendo era a distribuição de cestas a domicílio, o que soa suspeito afinal quem garante que havia sido feito triagem etc e tal?
Para nós, parecia mais uma máscara para promover assistencialismo eleitoreiro e uso da máquina pública.
E passamos a vigiar essa entrega.
Numa dessas, eu flagrei o ato e filmei a entrega de cesta numa casa.
Nem preciso falar que deu um B.O. danado. Literalmente.
A polícia foi chamada, vizinhos saíram às ruas, curiosos se aglomeraram, uma verdadeira bagunça.
Fui pra delegacia prestar depoimento e pouco antes de ser liberado, vi que uma multidão se aglomerava na porta da delegacia.
Eram partidários do então prefeito, candidato à reeleição que ao saber do caso, lotaram a porta da delegacia para prestar solidariedade e nos intimidar.
Uma liderança política do Prefeito chegou em mim e disse:
- Cuidado quando sair ali fora heim! Eles podem se descontrolar.
De fato, minha saída seria complicada pois, pivô da encrenca, poderia ser alvo da ira descontrolada dos "paus mandados" do candidato situacionista.
Acontece que eu era Vereador, e pior, candidato a Vereador novamente.
E não existe coisa melhor para um candidato que se fazer de vítima.
Respondi à intimidação:
- Tudo o que eu mais quero (nome da pessoa), é apanhar ali fora.
Diante da cara de espanto, concluí meu raciocínio:
- Vocês vão criar um mártir aqui hoje!
Inteligente e conhecedora dos meandos da política, a pessoa saiu da delegacia e foi até a multidão. Vi que ela argumentava com uns 4 ou 5, certamente explicando, ou tentando, já que muitos deles eram seres irracionais, que uma coça faria de mim um candidato eleito.
Saí da delegacia encarando a multidão.
Por onde eu passava, as pessoas iam abrindo caminho e me acompanhando até o carro.
Uma ou outra ofensa, mas ninguém atreveu a me encostar a mão.
Confesso que tive muita vontade de provocar, de atiçar a ira contida de me transformar em mártir e me eleger com folgas naquela eleição.
Mas não o fiz, não por medo de apanhar, e apanharia muito naquele dia, mas por medo da ideia não dar certo.
Fosse hoje, não sei não. Acho que pagaria pra ver.

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