sábado, 1 de setembro de 2018

Quando um fã se depciona.

Quem me conhece sabe, sou amante da boa MPB.

Em especial Bossa Nova e seus derivados.

Toquinho é um desses derivados.

Nascido da costela da Bossa Nova, violonista primoroso, parceiro dos maiores músicos brasileiros do século XX, com um repertório variado, incluindo canções infantis que povoam a memória de gerações.

Sempre o tive na conta de meu cantor favorito, ao lado do Belchior.

Por essa razão assisti a 5 shows, comprei DVDs, CDs, livro sobre sua vida, acompanhei entrevistas, aprendi a tocar algumas de suas músicas, seguia perfis dedicados a ele, uma música era toque do meu celular*.

Até que na Feira do Livro de São Joaquim da Barra/SP, uma oportunidade única de ver o ídolo de perto, faltei da faculdade (minha maior prioridade na vida atualmente) para poder, ao lado de uma irmã igualmente fã e seguidora, assistir ao show pertinho de casa.

Assistimos ao show sentados, postando fotos e vídeos nas redes sociais divulgando o trabalho do artista.

Ao final do show, corremos para trás do palco para tentar a tão sonhada foto com nosso ídolo.

Lá estavam uma moça e um moço, jovens e fãs, envergonhados com a mesma ideia nossa.

Reunimos os 4 e criamos coragem de pedir a foto assim que ele saísse, pois o carro que o levaria já estava posicionado.;

E então Toquinho saiu com o violão ainda no peito e uma pressa daquelas.

Pedimos a foto, afinal seriam só 4 fotos ou se ele pedisse, juntaríamos todos numa foto coletiva.

E ouvimos dele: "Peraí".

Ao entrar no carro com o violão na mão, pensamos que deixaria o instrumento no carro para tirar a foto pedida. Ilusão, ele entrou no carro que saiu em disparada e então entendemos o que significou o "peraí".

E eu entendi o violão ainda pendurado no pescoço: o instrumento que fez dele o artista genial e reconhecido no mundo todo, sendo usado como "parachoque de fãs". Uma blindagem para ninguém chegar perto.

Talvez seu primeiro instrumento ganho na infância para curar o sofrimento pela derrota do Corinthians, que o faria a aprender a tocar nos anos seguintes, ficasse envergonhado se soubesse que, após a fama conseguida, 50 anos de carreira depois, o aprendiz de violão não aceitaria perder 30 segundos de seu precioso tempo tirando fotos com 4, até então, fãs.

Da minha parte perdeu a graça.

Sei que não farei falta, frente aos milhões de fãs, mas tomei uma decisão: morreu para mim.

Apaguei a pasta do pen drive do carro e todos os MP3 do computador, rasguei as músicas que aprendi a tocar, jurei nunca mais perder meu tempo indo a 1 único mísero show, mesmo que seja feito na esquina de minha casa, saí das redes sociais (não sem antes xingar), mudei o toque do celular* e me desfiz dos CDs, DVDs e livro (iria sortear aqui no Blog, mas a tal irmã pegou antes: "Não deixei de gostar das músicas").

Talvez ela seja mais racional que eu, ou menos vingativa. Talvez eu esteja exagerando. Ou como disse uma amiga: "Parece aqueles términos de relacionamento em que se apaga todas as lembranças".

E foi isso mesmo, um término de relacionamento. E com traição!!!

Poderia ter dito um "Estou com pressa", "Desculpe mas agora não posso", até um "Eu não quero, não gosto" eu entenderia. Mas "peraí" soou irônico. Mais que isso, soou arrogante e mostrou um total desprezo pelo público que o artista sempre disse ser a razão de seu trabalho.

Belchior agora ficou sozinho na minha galeria de ídolos na música.

*Atualizado às 15:30h.

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