Talvez hoje ele fosse "acusado" de ser marxista pela elite conservadora, pois faz nesse sermão uma crítica veemente à exploração do homem pelo próprio homem. Padre Vieira levanta uma teoria interessante, muito antes de Karl Marx falar em igualdade e exploração.
Usando como metáfora, os peixes, Vieira diz:
"A primeira cousa
que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros.
Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda
maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes
comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos
comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes
comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande".
É de se refletir.
Por que a morte de muitos pequenos deve alimentar a vida de um grande, quando o mais justo seria a morte de um grande, para assim alimentar muitos pequenos?
Três séculos e meio depois, o que vemos a reedição do que o Santo Padre tanto criticou lá no século 17: o sacrifício dos pequenos, a maioria; para satisfazer ao apetite dos grandes, a minoria.
Melhor seria o inverso, pois o mesmo sacrifício significaria a sobrevivência mais digna de uma esmagadora maioria que historicamente é engolida pelos peixes maiores, privilegiados nesse oceano da desigualdade e injustiça.
Ah peixes pequenos, se soubessem a força que, juntos, vocês têm...
Sobre o que eu estou falando?
Sobre peixes, é claro!
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