Mais uma vez
a Cultura.
Por Orandes Rocha*
Foi com
grata satisfação que assisti ao espetáculo “Viola Enluarada”, do Grupo Minaz,
promovido pelo Núcleo Cultural Oswaldo Ribeiro de Mendonça na fachada do
próprio Instituto, com cadeiras na rua e gratuito.
O Grupo
apresentou clássicos da nossa música caipira com arranjos de instrumentos de
orquestras, misturados com instrumentos de música popular. E teve mais: a
Maestrina apresentou cada elemento do coral e dos instrumentos e os músicos
receberam o público ao final do espetáculo.
Este
espetáculo é uma realização do Governo de São Paulo e se apresenta ao longo do
ano nas cidades que, seja por iniciativa do Poder Público, seja por pedido de
Instituições não Governamentais, se apresenta ao público com um belo show.
Conversando
com pessoas presentes no evento e mesmo ao longo da semana que se segui à
apresentação, as falas convergiam:
1.
Público pequeno para tão belo espetáculo?
2. Ipuã
tem público para cultura?
3. Por
que Ipuã não tem mais eventos como este?
A
primeira questão é discutível.
Não vejo
o público tão pequeno assim.
Quase
todos os assentos disponibilizados pela organização do evento foram ocupados. Soma-se
ainda, moradores da vizinhança com cadeiras na calçada (“e na fachada escrito
em cima que é um lar”, como cantou Vinícius de Moraes) prestigiando a
apresentação. E mesmo algumas pessoas em pé, o que na hora do aplauso acabou
ajudando, pois não tiveram que se levantar para aplaudir como todos os que
estavam presentes fizeram.
Claro que
se compararmos com shows sertanejos o público é, de fato muito menor, mas seria
uma comparação completamente injusta e distorcida.
A segunda
questão não existe outra resposta a não ser: SIM, tem público para cultura.
Existe um
público cativo, que consome este tipo de evento e que reivindica maior
frequência destes.
Mas vale
lembrar que cultura envolve também formação de público. E é aqui que nossa
cidade peca.
Para formar
público é necessário rotina, não pode ser apresentações esporádicas seja na
apresentação que for.
Belas
iniciativas de apresentação de cinema nas praças como as ocorridas recentemente
deveriam ser freqüentes, só assim conseguiremos formar um público para cinema.
Não pode ser uma este ano e outra sabe Deus quando.
Prova
disso é a bela iniciativa do pessoal que organiza o “Cinema Feliz”, exibindo
filmes no anfiteatro do Centro de Formação de Professores. Os organizadores
criaram uma rotina, os expectadores sabem em qual época do ano serão realizadas
as sessões, já faz parte do calendário cultural da cidade.
O mesmo
deveria ser feito com outras atividades culturais.
Para se
formar público, este tem que saber o que vai acontecer e quando vai acontecer o
evento, o que em nossa cidade, salvo algumas exceções, é raro. Eventos
culturais em nossa cidade são esporádicos e isso não contribui na formação do
público.
Se
apresentar atrações sem rotina pré estabelecida fosse bom para formação de
público, as novelas da Globo eram assim.
E por
fim, a questão polemica sobre o pouco investimento em cultura na cidade.
Tenho
dito isso há alguns anos e reforço: Falta de interesse.
Claro que
a falta de verba pesa, afinal a Cultura é o menor Ministério em valores de investimentos
e certamente entre as Secretarias de Estado esta proporção se mantém.
Mas
afinal, de quanto de dinheiro estamos falando? Quanto precisa para criar uma
agenda cultural na cidade? Quanto custa uma mostra de fotografia? Uma peça de
teatro? Uma apresentação musical como “Viola Enluarada”? Quanto custa por conta
própria a Prefeitura fazer uma semana de cinema na Praça todo ano?
Quanto
custa uma Feira do Livro? (lembra quando cobravam nas Redes Sociais que Ipuã
era a “única cidade da região que não tinha uma”? Pois é, ainda não tem e não
se cobra mais).
Certamente
o que se gastou em 2 shows da Expuã daria para pagar todos estes eventos
culturais tão carentes em nossa cidade.
Seja como
for, a Cultura tem sido uma lacuna preenchida muitas vezes por iniciativas
particulares e sem fins lucrativos, como as duas citadas neste texto.
Nos
resta, enquanto cidadãos consumidores, parabenizar (e agradecer) a iniciativa
dos organizadores que fomentam a cultura em nossa cidade e cobrar que o Poder
Público também invista neste setor de maneira maciça e organizada.
*Orandes Rocha sonha
em ver Cultura na cidade de Ipuã.
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