sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A Beija Flor e o Ditador.

Concordo que errou e feio a escola de samba carioca Beija Flor, ao receber patrocínio do Governo da Guiné Equatorial, governada pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (que esteve presente no desfile) que há 35 anos governa aquele país com mão de ferro.

Acusado de violar direitos humanos na Guiné Equatorial, de promover prisões ilegais, torturas e mortes, além de apropriação do dinheiro público que o teria tornado um dos homens mais ricos de seu país, dono de imóveis em vários países, inclusive o Brasil, Mbasogo é uma figura execrável, como todos os ditadores.

Eis que sabe-se lá por quais razões, a Beija Flor resolveu homenagear o país africano, indiretamente promovendo a imagem de seu ditador.

A escola é acusada de ter vendido seu samba enredo, fazendo uma "tabelinha" com o ditador: usar seu país como tema em troca de "apoio cultural" para o desenrolar do enredo. O valor arrecadado teria sido na ordem de 10 milhões de Reais.

Não acho ético uma escola de samba (patrimônio imaterial do país, como o futebol, cuja semelhança com o fato acima descrito será abordado ao final deste texto) receber dinheiro sujo de sangue e fedendo a ditadura, para poder participar do "maior espetáculo da Terra".

Mas convenhamos, por que tamanha revolta?

As escolas sempre foram bancadas por bicheiros com estreitas ligações com o crime organizado. Ligações estas, estendidas às escolas de samba.

Dinheiro de Ditador não é ético, mas de Bicheiro é?

Dinheiro de Ditador é sujo de sangue de mortes e torturas advindas da luta dos opositores, mas dinheiro de traficante não é sujo de sangue (da morte de policiais, de civis inocentes ou usuários)?

Dinheiro de quem explora o país não pode, mas de quem explora a contravenção e o tráfico podem?

Pura hipocrisia.

Como seria hipocrisia não lembrar que em 2010 a Seleção Brasileira realizou (ou melhor, a CBF vendeu) amistosos preparativos para a Copa do Mundo daquele ano, contra a seleção do Zimbábue, do ditador Robert Mugabe.

Seleção Brasileira pode receber dinheiro sujo de sangue advindo de ditador, escola de samba não pode?

Guerra Civil por Guerra Civil, a nossa me preocupa muito mais.

Quero dizer que tanto a escola de samba como a seleção praticaram atos, a meu ver, que fere princípios éticos, agravados pelo fato de serem, repito, patrimônios imateriais do povo brasileiro, o samba e o futebol.

Como também sou contra a relação promíscua das escolas de samba por com contraventores e criminosos organizados, razão pela qual há anos não acompanho e sequer torço por qualquer agremiação de samba, seja no RJ, seja em SP.

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