sábado, 4 de março de 2017

Unespianos 20 anos: Uma nota de alegria se cala.

Durante um tempo pensei se deveria deixar esse texto para o final, para o último capítulo desta minissérie.

Talvez não quisesse que algo tão festivo terminasse em tom de tristeza.

Também questionei se deveria escrever sobre este assunto.

Mas algo me diz que não deixa de ser uma homenagem.

E também porque como bem disse o poeta francês:

"Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano".


Então vamos nos permitir sermos tristes só por hoje?



Moisés foi um dos primeiros amigos que fiz na Unesp.

Relembrar histórias vividas com ele e em conjunto com outros tantos amigos daria assunto pra mais de mês.

Por seu temperamento contemporizador e sua serenidade mineira, além da lealdade, tornou-se amigo da sala toda rapidamente.

E parecia que tudo acontecia para reforçar a simpatia dele com a sala.

Salvo engano, Moisés foi o primeiro colega a ser papai durante o curso. Ele nos contou que a namorada, Juliana, engravidara; e para nosso deleite, foi alvo de boas piadas da turma.

E a turma acolheu a boa nova de uma maneira fraternal, ansiosos pela chegada desta criança.

Criança que ele acreditava que seria menino, pois os exames mostravam isso. Ao retornar das férias e ser perguntado sobre como estava o bebê que nascera, ele respondeu:

- Não é bebê, é "bebéia".

E então nos informou o engano do exame e do médico.

Anos mais tarde, já formado, Moisés teria outra "bebéia" e formaria uma linda família.

Família que eu perderia o contato completamente.

A última vez que estive com o Moisés foi em seu casamento, em dezembro de 2001, ocasião em que me convidou para padrinho, o que aceitei com muito orgulho.

O Moisés entrou ao som de uma música italiana enquanto a noiva entrou ao som de "I don't want to miss a thing" da banda Aerosmith, ou coisa que o valha.

A daminha da cerimônia não poderia ser outra que não a pequena Isabela, até então única filhinha do casal. Que com pouco mais de 2 anos, entrou na igreja quebrando o protocolo gritando: "Papai vai casar!".

E de fato, papai casou. E com mamãe, o que foi melhor ainda, para alegria da Isabela.

Terminada a cerimônia, eu iria até uma pequena recepção na casa dos pais da noiva e de lá retornaria para Ipuã, pois ainda que tivesse preparado para pernoitar (levei saco de dormir) optei por voltar naquela noite mesmo.

A última imagem que tenho do Moisés foi me despedindo dele e da esposa nas imediações da igreja enquanto me dirigia ao meu carro.

Olhei pra trás e acenei para eles...

Uma imagem que não me sai da retina.

E então o tempo passou e perdemos contato. Uma única ligação depois do casório, em 2005.

Após novo afastamento, sempre com a desculpa da "vida corrida", o Orkut e o MSN nos aproximou novamente.

Então as conversas ficaram frequentes e sempre tive notícias dele, da esposa e de um mestrado que ele fazia na UFMG.

Até um novo - e definitivo - afastamento, também com a desculpa da "vida corrida", até não mais vê-lo no Orkut.

Sem perceber passaram os anos e quando corria o ano de 2011, vi no perfil da esposa dele umas fotos dele com mensagens tristes, sempre no tempo passado.

Confesso que demorei criar coragem para perguntar e as frases que ela postara em nenhum momento indicavam o que de fato havia acontecido. Apenas revelando uma grande tristeza da Juliana.

Não sei se era uma interpretação errada da minha cabeça, mas as frases bem poderiam servir para um fim de relacionamento. Na minha cabeça eu iria perguntar por ele e a esposa me contaria que haviam se separado.

Como a dúvida não me saía da cabeça, após muito hesitar, mandei um e-mail "despretensioso" para a Juliana dizendo que sentia  saudade etc e tal e perguntando como estavam as coisas.

Ela me respondeu lacônica que as coisas estavam "caminhando como Deus queria", "fazer  que né?", respostas assim.

Não tive outra opção a não ser enviar outro e-mail me desculpando pela insistência e perguntando pelo Moisés.

Li o que não queria ler, o que no fundo eu já sabia mas não queria acreditar.

Moisés havia falecido em um trágico acidente de carro em 2008. Eu não fiquei sabendo do fato como aliás acho que nenhum colega ficou, pois ele era nosso único colega da cidade de Itaú de Minas, quem nos avisaria?

E também perdemos contato, as redes sociais engatinhavam naquela época, não tínhamos o hábito de telefonar ou visitar uns aos outros. E ainda, a "vida corrida" nos dava um habeas corpus que usamos quando queremos mascarar nossas ausências.

Eu poderia ter ligado, e não liguei.

Poderia ter ido visitá-lo como tantas vezes prometi, e não o fiz. E chances não me faltaram.

Mas não fiz nada disso.

Fiz duas coisas após a triste notícia: comecei a avisar o máximo de colegas que eu tinha contato e jurei para mim mesmo que nunca mais deixaria de cumprir uma promessa de visita, ou de deixar de buscar notícias com amigos e amigas distantes.

Aprendi a lição do pior jeito.

Tenho feito o que jurei?

Na medida do possível, afinal tem essa m... de "vida corrida" para hipocritamente eu me justificar.

Gostaria de um dia conseguir uma foto minha com ele naquele casamento.

Um comentário:

  1. Meu sinceros sentimentos,

    Sei muito bem como o estimava, pois em muitas de nossas conversas o nome Moisés esteve presente.

    Abraço do amigo também hipócrita (com vida corrida).

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