quarta-feira, 1 de março de 2017

Unespianos 20 anos: O começo.

A emoção de ler seu nome entre os aprovados do vestibular, em pleno carnaval de 1997.

A emoção de fazer a matrícula na Unesp da Franca.

Uma curiosidade: fui acompanhado pela minha mãe para fazer a matrícula talvez por isso escapei dos primeiros (e mais leves) trotes.

Veio então o 1º dia de aula.

A roupa especialmente escolhida para a ocasião, cadernos em punho, "tinha a alma de sonhos povoada e a alma de sonhos povoada eu tinha" e muita vontade de estudar.

E lá fui eu, naquele 3 de março de 1997 conhecer aquele monte de pessoas que até então eram somente nomes numa lista de aprovados do curso de História Noturno da Unesp de Franca.

Quer dizer, mal deu pra conhecê-los naquele dia, pois fomos sumariamente alvo de um trote por parte dos veteranos, ali mesmo dentro da faculdade. Um dos últimos trotes lá dentro, pois o Governo Covas acabaria com a prática 2 anos mais tarde.

E então tive meu batismo: sujo com uma massa feita de farinha e ovo, lambuzado de óleo, uma borrifada de um perfume horroroso (que ainda hoje questiono que aquilo tenha sido produzido em escala industrial) atirado sobre mim e que me acertou os olhos, escrachado publicamente (como deve acontecer com todo Bixo nesse rito de passagem), mas sem nenhum mal trato físico, registre-se.

Só mesmo a boa e velha execração pública necessária para "assassinar" a figura do estudante secundarista, renascido para uma nova vida.

E eu, cego e com falta de ar por causa do saco de palha de arroz que mandaram a gente enfiar a cabeça, recebi por parte de um veterano alguma piedade, me levando até o banheiro e deixando que ali eu tivesse 2 min de paz.

Terminada a paz, hora de puxar a carroça pelas ruas de Franca, beber vinho chapinha e lavar a fonte da praça.

Terminado o Charivari, cada pega seu rumo e eu, que fiquei para lavar a fonte, ouço de um veterano: pronto, agora você é um Unespiano.

Ainda desconhecia o peso e a importância deste rótulo: Unespiano.

Recebi piedade de outro veterano que me levou para sua casa onde sua família assustada com o bixo completamente imundo, permitiu uma chuveirada para ficar mais dignamente apresentável para entrar no ônibus que me traria de volta a Ipuã.

Lamentavelmente não recordo o nome do veterano, devia ser da turma da manhã pois nunca mais o vi. Caso ele esteja lendo, se identifique por favor, devo agradecimentos maiores a ele e a sua família.

Recordo, hoje com certa vergonha, de não saber onde eu estava pois mal conhecia Franca e não havia outro bixo para poder voltarmos juntos à Unesp. E todo mundo que eu parava para pedir informação se negava a conversar comigo dada a situação lastimável que eu me encontrava.

Com muito custo alguém me ensinou a voltar a Unesp e eu assim o fiz.

Esperando meu ônibus, ainda sujo do trote e fedido do "perfume" que me jogaram, olhava para aquele prédio e pensava: Não vou me dar bem aqui.

Confesso que entrei no antigo prédio da Unesp para fazer faculdade de História com uma única ideia fixa na cabeça: terminar o mais rápido possível.

Na minha cabeça, o lance era entrar, fazer o curso e me formar e sumir de lá sem olhar pra trás.

O que eu não imaginava é que naquela faculdade eu viveria meus melhores anos dentro de uma sala de aula e que seria para sempre um Unespiano.

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