sábado, 2 de dezembro de 2017

Um Pequeno Príncipe à altura da obra.

Elogiar o Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça pelas atividades desenvolvidas pela instituição em Ipuã vai virando trivialidade do blog.

Corro o risco de ser redundante ao toda vez parabenizar e elogiar as atividades desenvolvidas pelo Instituto que brinda o ipuanense com belos espetáculos e ainda o risco de ser repetitivo ao conferir à instituição o status de "principal entidade de fomento à cultura na cidade de Ipuã".

Mas ser trivial, redundante ou repetitivo se justifica diante da apresentação de ontem promovida pelo Instituto.

A encenação na forma de dança do livro "O Pequeno Príncipe", clássico da literatura mundial do escritor Antoine de Saint-Exupéry, foi daqueles espetáculos que, quem assistiu, não se arrependeu de enfrentar a chuva que desabou na cidade para ir até o Ipuã Country Club (gentilmente cedido para o evento) prestigiar.

Confesso que fui mais para ver minha sobrinha, que fez parte do corpo de dança junto com suas amiguinhas do balé (desenvolvido no Núcleo Cultural Oswaldo Ribeiro de Mendonça, também para a população em geral), que brilhantemente interpretaram as jardineiras.

Talvez não tivesse ido, não fosse a "obrigação" de tio apaixonado pela sobrinha. Afinal, já li o livro, já ouvi o audio book (disponível no youtube, recomendo), já assisti ao filme (com Gene Wilder no papel da raposa, imperdível), assisti a um vídeo de animação, documentários,... enfim, nada mais poderia me impressionar.

Eis que assisto a uma apresentação de uma criatividade, sensibilidade e beleza, como poucas vezes vi na vida. Eu poderia citar a música, o cenário, a iluminação, o figurino, a dança, a forma como o enredo foi desenvolvido, etc... Mas não sou crítico de arte.

Vou então ressaltar a ousadia da direção do espetáculo e dos autores da adaptação da obra.

Ousadia que Vinícius de Moraes teve ao recriar a tragédia grega de Orfeu e Eurídice em uma favela carioca. E a mesma que Ariano Suassuna teve ao representar Jesus em seu "Auto da Compadecida".

A ousadia da peça em representar um Pequeno Príncipe negro, em um momento tão delicado que vive a sociedade brasileira, onde pessoas usam as redes sociais para disseminar ódio, intolerância e preconceito, travando um embate com aquelas que defendem o aprofundamento das discussões étnico-raciais  e o combate ao racismo e à discriminação.

Não sei foi essa a intenção mas a peça deu um tapa na cara do racismo, essa imbecilidade que a mente humana produziu e alguns insistem em reproduzir.

E não elogio a ousadia apenas com o olhar de quem curte de cultura forma geral; ou de um tio babão que foi ver a sobrinha e se encantou com tudo o que viu. Também não com o olhar de defensor das questões étnico-raciais, mas com o olhar de um Educador.

E justamente como Educador que enxerguei na peça o que muitos autores da área denominam por "currículo oculto".

Currículo oculto é aquilo que se ensina não pelos livros ou aulas expositivas, não com palavras; mas através de atitudes, gestos, exemplos, práticas e comportamentos. Está presente no "bom dia" que damos ao porteiro ou à moça da limpeza da escola onde trabalhamos; no gesto de devolver uma carteira achada no chão, simplesmente porque esta não lhe pertence; etc...

E minha experiência de educador me permite garantir que pessoas (crianças ou adultos, alunos ou não alunos) aprendem com gestos, ações e exemplos, mais do que aprendem com palavras.

A escolha de um ator negro para representar do Pequeno Príncipe certamente influenciará positivamente às demais crianças que participaram da peça e também a quem a assistiu, mudando-lhes a forma de enxergar o outro.

Quem sabe o exemplo dado ontem pelo espetáculo não esteja ajudando a construir uma nova sociedade?

E já que no começo do texto eu me disse repetitivo e trivial, vou encerrar com o bom e velho chavão, mas acreditem, é verdadeiro, como todos os chavões: "Não vou citar nomes para não cometer injustiça, mas quero dar PARABÉNS a cada um que contribuiu com a montagem e a apresentação do espetáculo O Pequeno Príncipe".

E obviamente agradecer ao Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça por sempre incluir Ipuã no roteiro dos eventos que o Instituto promove, fruto dos esforços de seus colaboradores e da busca de parcerias com todas as instâncias de Poder. Provando que é possível disseminar cultura nesse país, sobretudo em uma cidade tão carente nessa área como a nossa.

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