quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Uma sandice chamada "Ensino Domiciliar"

Dentre as ações que um Governo pode fazer em favor de uma área tão importante como a Educação, destaco:

Reforma curricular, adequada aos dias atuais.
Melhorias salariais dos Docentes.
Investimento em formação docente.
Investimento em formação de Gestão.
Construção, reforma e adequação de escolas.
Materiais didáticos.
Dentre outras...

No entanto, vejo uma canalização de esforços para, na base de Medida Provisória, liberar o "Ensino Domiciliar" no país, que se apresenta muitas vezes com o nome chique de "Homeschooling".

Trata-se da instituição do direito aos pais que queiram ensinar seus filhos em casa, sem a necessidade de matriculá-los em uma escola, possam fazê-lo.

Hoje, a LDB e Resoluções sobre Educação editadas pelo MEC e ou Secretarias de seu organograma impedem tal prática.

No entanto, muitos se apresentam como defensores dessa nova modalidade de ensino, argumentando que é direito dos pais ensinar os filhos como bem entenderem, da forma que acha mais conveniente.

[modo ironia] E sobretudo, evidentemente e o mais importante, afinal trata-se do grande problema secular que a educação Brasileira enfrenta, e razão do seu atraso e precariedade, impedindo-a de se tornar grande como em países como Finlândia e Suécia, o Ensino Domiciliar representaria o fim da doutrinação político ideológica que a esquerda promove nas escolas. [modo ironia].

Óbvio que a lei só torna legal a prática, e não obriga pais a fazê-la. Assim como o direito ao cidadão de bem possuir uma arma não obriga todos possuírem uma. Argumento que deveria valer também para o aborto, a eutanásia e quiçá, a legalização da maconha (ainda que dessa última eu tenha algumas restrições).

Ao tornar legal e não obrigar o Ensino Domiciliar, espera-se com isso que os pais que desejarem ensinar seus filhos, possam fazê-lo sem infringir a lei.

O que não me impede de tecer algumas considerações sobre essa sandice chamada "Ensino Domiciliar":

1. Como os alunos domiciliares comprovariam sua escolaridade? Fariam uma prova ao final do Ensino Fundamental I e II e do Ensino Médio que lhe validariam uma certificação de conclusão dessas etapas do Ensino?

2.  Os defensores dessa ideia não entendem que escola não é apenas ensino/aprendizagem de conteúdos, mas espaço de socialização, troca de experiências, noções de valores indispensáveis à vida em sociedade e  única fonte de alimentação adequada e em grande quantidade para muitos alunos?

3. O próximo passo após a aprovação da MP seria o incentivo aos pais que adotassem essa modalidade de ensino, criando uma bolsa ou algo assim?

4. Quem defende que nos EUA é uma prática legalizada e comum, saberia me dizer que a taxa de sucesso daqueles que optam por tal modalidade de ensino é alta? Será que dentre os estudantes ingressantes em, por exemplo, a Universidade de de Harvard, a maioria frequentou o ensino regular ou o domiciliar?

5. O Ensino Domiciliar ficaria por conta dos pais e familiares ou seriam contratados professores para ensinar em casa? [modo ironia] (Os antigos preceptores, como Miss Celine, que dom Sabino Machado contratou para ensinar suas filhas Marocas, Nico e Kiki. Personagens de uma novela encerrada essa semana que contava a saga de uma família congelada no século XIX, época em que o Ensino Domiciliar deveria ser a última novidade em termos de educação) [modo ironia].

6. E a pergunta de 1 milhão de dólares: Quem defende essa sandice vai tirar seu filho ou sua filha da escola e ensiná-los em casa? 

Será que mesmo o mais rico empresário, abriria mão de uma escola de elite para seu filho em troca de ensiná-lo em casa, contratando os melhores professores que o dinheiro pudesse pagar?

Será que o mais inteligente, esforçado e bem informado pai de família, teria tempo, disciplina e recursos disponíveis para transmitir ao filho ou filha todos os conhecimentos necessários de 14 anos de ensino para que esses pudessem prosseguir seja em uma faculdade, seja em um curso técnico ou mesmo, como um cidadão consciente cumpridor de seus deveres?

A aprovação de um absurdo como esse e a sua execução por parte de pais que ousassem se aventurar numa jornada dessas significa que a quantidade de pessoas que desconsideram o trabalho de escolas e professores talvez seja maior do que pensamos.

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