terça-feira, 15 de maio de 2018

Chico Buarque perde a coerência ao permitir música em novela da Globo.

Chico Buarque está, indiscutivelmente, entre os maiores gênios da música brasileira de todos os tempos.

Falar sobre sua obra e citar a importância de suas canções na história do país seria chover no molhado.

Nos últimos anos, entretanto, com a polarização que cega o país, Chico tem sido mais associado por suas manifestações de apoio ao Lulla e ao PT que necessariamente por sua bela trajetória artística.

Ele não se furta em comentar sobre a política nacional; o que já lhe rendeu, além de inimigos nas redes antissociais, o inconveniente de ser abordado por 3 ignorantes abestados e abastados (um deles inclusive da vizinha Guaíra) na porta de um restaurante no RJ, para "tirar satisfação" sobre seu posicionamento político ideológico.

A imbecilidade na sua essência. Mas o gênio tirou de letra, dada a sua elegância e a ignorância dos que o admoestaram (confira o fato lamentável clicando aqui).

Apesar de discordar do posicionamento de Chico Buarque, repudio atitudes como essas. Mesmo porque como bem disse um dos melhores amigos do cantor, o também cantor e compositor Toquinho - totalmente contrário ao pensamento do Chico no que tange a ideologia político partidária - que em uma entrevista resumiu bem: "Temos que dar liberdade ao Chico e a quem quer que seja, de apoiar qualquer partido" (aqui: entre 58:45 - 1:00:05).

Concordo com Mestre Toquinho, mas sobre o Chico Buarque vou dar apenas 2 senões.

1º: Se Chico tem o direito de ter sua opinião, as demais pessoas têm o direito de discordar dela. Não acho inteligente classificar como ignorante ou fascista alguém que discorde do Chico Buarque. Como também acho que quem emite sua opinião, como ele o faz, tem que permitir a contra argumentação. Evidente que não com atitudes trogloditas como a acima citada.

E o 2º senão é um pouco mais polêmico.

Chico Buarque não tem sido coerente, ou como diria Cazuza (vivo fosse, de qual lado estaria nessa polarização?): "suas palavras não correspondem aos fatos".

Eu explico.

O programa Roda Viva (TV Cultura) usava, como tema de abertura, a música homônima de autoria de Chico Buarque, imortalizada na gravação do cantor com o grupo MPB4. Entretanto, após o Roda Viva entrevistar o então recém empossado Presidente, Michel Temer, Chico Buarque pediu que o tema fosse retirado do programa, certamente por discordância ideológica com um programa de TV que dava visibilidade ao Presidente Golpista. (aqui).

Causa estranheza no entanto que a nova novela das 9 da Rede Globo, "Segundo Sol", traga em sua trilha sonora a música "Dueto", do novo álbum de Chico Buarque, "Caravanas", lançado recentemente. (aqui).

A imagem que me passa é a do oportunismo em detrimento da ideologia. Afinal, não seria a Rede Globo a maior algoz do Governo Petista e principal fomentadora do golpe contra a Dilma e da perseguição ao Lulla?

Não me parece coerente com sua ideologia proibir uma música em um programa de uma TV Estatal e pouco depois, permitir outra música em novela na maior TV do país, ambas apoiadoras do golpe contra o PT. A Cultura ao dar visibilidade ao Presidente golpista; e a Globo pela eterna parcialidade contrária aos PT que as lideranças e militantes denunciam há décadas.

Com a TV de pouca audiência é fácil brigar, porém a que lhe dá visibilidade junto ao público nacional (e internacional) abre exceção? Me parece muito a história do "com os pequenos um leão e com os grandes, um gatinho".

Agindo de uma forma com a TV Cultura e de outra com a Vênus Platinada fica a sensação de que Millôr Fernandes tinha razão quando questionado, no mesmo Roda Vida, sobre sua desavença com Chico Buarque, ao responder que "Eu desconfio de todo idealista que lucra com o seu ideal". (aqui)

Reforço: Chico Buarque tem total direito de defender quem e os ideias que ele quiser, mas um pouco de coerência faria muito bem ao Gênio cuja obra artística jamais será apagada por questões como essas.

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