sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Pelé deve acender a Pira Olímpica. Édson Arantes deve ficar em casa.

Nos jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, a honra de acender a chama Olímpica que permanece acesa durante todo os Jogos, coube ao pugilista Muhammed Ali.

Medalha de ouro nos Jogos de Roma (1960) e Campeão dos pesos pesados, Ali é tido como um dos maiores, senão o maior, pugilista da História mundial.

No Brasil, deverá (ou pelo menos deveria) ser Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.

Personalidade esportiva brasileira mais conhecida no Planeta Terra, a ponto da Rede Globo não colocar legenda na sua imagem quando o entrevista ou faz alguma matéria televisiva sobre ele.

O maior futebolista Brasileiro de todos os tempos, 3 vezes Campeão Mundial e eleito o Atleta do Século XX, Pelé é tido como um dos maiores, senão o maior, jogador de Futebol de todos os tempos.

Além da carreira vitoriosa em brilhante no esporte, outras semelhanças unem os dois atletas.

Ambos são Negros, vivendo em países racistas apesar do grande número de afrodescendentes e da inegável contribuição da cultura negra na formação cultural de seus países.

Ali sofria de Doença de Parkinson, o que lhe debilitava os movimentos. Na imagem abaixo, fica claro o quanto o campeão mundial padecia da doença, o que tornou sua escolha ainda mais memorável e simbólica.

Nos últimos anos, Pelé tem sofrido problemas de saúde. Atualmente se recupera de uma cirurgia complicada no quadril, feita em janeiro para reparar outra realizada em 2012. Anda com auxílio de bengala e sua assessoria diz que ele não gostaria de passar uma imagem de fragilidade acendendo a Pira de maneira convalescente.

Por isso a dúvida se será ele mesmo o atleta a ter tal honra logo mais.

Mas as semelhanças entre os ídolos do esporte terminam aí.

Muhammad Ali tornou-se lenda mundial não só pelos títulos que conquistou, mas por seu ativismo em defesa da igualdade de direitos civis entre negros e brancos nos EUA (chegou a jogar fora a medalha de ouro ganha nos Jogos de Roma quando teve um pedido de hambúrguer negado, por ser negro, em uma lanchonete), pela preocupação com a situação da África e por ser contra a Guerra do Vietnã (chegando a ser preso por isso).

O ativismo político levou-o a aproximar-se, e tornar-se amigo, de Martin Luther King, e ao lado do líder pelos direitos civis dos afrodescendentes, passou a dar opiniões contundentes sobre questões raciais.

Pelé tem se primado pelo pragmatismo político.

Recentemente tem sido raro suas declarações políticas e quando o faz, acaba por gerar polêmicas, por quase sempre defender a manutenção do status quo.

Razão pela qual a imprensa costuma brincar que na verdade existem duas pessoas: O Pelé, jogador genial; e o Édson Arantes do Nascimento, cidadão marcado por declarações desastradas e atitudes na vida particular passíveis de muita crítica.

Foi assim quando criticou o goleiro Aranha por ter denunciado ofensas racistas; por sugerir que manifestantes protestassem apenas depois da Copa de 2014, pois para ele aquele não era o momento e ainda; dizer que futebol não deve se misturar com política, esquecendo-se que ele mesmo, quando ativista esportivo, fez tal "mistura".

Pelé ao fazer o 1000º gol fez ativismo político, pedindo para os Governantes pensar em nossas crianças e no futuro dela; segundo ele próprio, não disputou a Copa de 74 por discordar do Regime Militar; e enquanto no Brasil se pedia para votar para Presidente, disse a triste frase "Brasileiro não sabe votar", explicando sua razão por ser contra o voto direto.

Ainda que tal frase tenha requintes de verdade, naquele momento o voto direto era uma luta de todos os brasileiros cansados a opressão ditatorial.

Pesa ainda contra o Rei em seu ativismo, o fato de quando Ministro dos Esportes, ter se unido a Ricardo Teixeira no famoso "Pacto da Bola", quando o cartola e sua gente estavam de joelhos perante uma CPI que ameaçava fazer uma devassa no futebol Brasileiro.

Ainda que seu histórico político seja extremamente polêmico, não vejo figura esportiva à altura de Pelé para acender a Pira.

Talvez seja o momento de esquecer o ativismo político desastrado do Rei e colocar no palco principal da abertura, o atleta genial que dentro de campo encantou até torcedores adversários.

Hoje, mais do que nunca, é dia de separar e deixar o Édson Arantes do Nascimento em casa, se recuperando da cirurgia e colocar o Pelé no Estádio Maracanã acendendo a Pira Olímpica. 

E que a cena abaixo se repita com o Rei hoje, usando uma simpática bengalinha, acendendo o maior símbolo olímpico.

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