sábado, 27 de agosto de 2016

O poder dos pequenos candidatos a vereadores.

Já participei de muitas campanhas eleitorais.

Em duas delas como candidato.

Posso afirmar: Todo candidato a Prefeito tem seus candidatos a vereadores favoritos.

E muitas vezes dá uma boa ajuda a estes candidatos, geralmente candidatos com maior potencial eleitoral e por vezes abandona à própria sorte os candidatos de menor expressão. 

Uma ajuda financeira para um, a agenda dedicada a atender outro, reuniões exclusivas com apenas meia dúzia de candidatos e não com todos, informações privilegiadas para uns, dicas para outros, e nada, absolutamente nada para uma grande maioria.

Geralmente esta maioria excluída tem o mesmo perfil: estreantes na política, com poucos recursos financeiros e pouca projeção na cidade; convidados por alguma liderança que ao filiá-lo, elogiou-o, exaltou suas chances de vencer sempre se apegando a algum fato de destaque do candidato, lhe prometendo mundos e fundos de ajuda durante a campanha.

Mal sabia o candidato que o que a tal liderança queria mesmo, eram seus votos para compor legenda e assim eleger a si próprio.

E então o candidato se vê no meio de um furacão que sua vida se torna depois lançar-se candidato, fazendo trabalho suado com o pouco tempo e dinheiro que dispõe, a promessas de ajuda não se confirmando, o candidato ao Executivo claramente tendendo a ajudar os candidatos de melhor envergadura e pior, vendo as lideranças que os convidaram a embarcar nessa, marchar a passos rápidos rumo à vitória.

Vitória que, diga-se a verdade, será construída com o voto destes candidatos de menor expressão, pois nosso sistema eleitoral é assim, completamente falho, e nossas lideranças nem sempre explicam aos demais candidatos, e quase sempre se beneficiam das falhas deste sistema perverso.

Ah se estes candidatos soubessem a força que têm. Soubessem que unidos podem se fazer ouvidos pelas lideranças maiores, que unidos podem cobrar os mesmos benefícios que os grandes tubarões da política têm por parte do comando da campanha.

Ah se eles soubessem que, unidos, podem derrubar uma campanha eleitoral.

Já pensou o impacto de uma dúzia (ou mais) de candidatos de menor expressão abandonando uma campanha eleitoral e explicando a cada morador os motivos de sua decisão?

Esta tomada de consciência de sua importância, ainda que pequena, dentro do processo eleitoral; a consciência coletiva de que juntos podem se fazer ouvidos, talvez revolucionaria o jeito de se fazer política no país.

Algo como o poetinha Vinícius de Moraes muito bem apresentou no poema "Operário em Construção", que mostra como um simples operário compreendeu sua importância dentro do capitalismo, representado pelo patrão explorador.

Ou como a charge abaixo.

Seguem um trecho do poema e a charge.

(...)
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.


E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção: 

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

(...)
 

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