Mudanças estruturais: Salários.
Por Orandes Rocha*.
Já critiquei aqui neste espaço em outras
oportunidades a questão do vazio das promessas eleitorais que os candidatos,
com chavões e lugares comum, fazem em suas campanhas.
Frases vagas sempre acompanhadas de um verbo,
mas que pouco explicam aos eleitores o fundamental: o que exatamente vão fazer
na prática? E como vão fazer?
Exemplos clássicos: “vou investir na saúde”, “vou
melhorar a educação”, “vou incentivar o esporte”, etc...
Dentre todas as promessas genéricas, talvez a
que seja feita de maneira mais vaga seja a questão salarial.
Impressionante como a maioria dos candidatos
critica (aos gritos nos comícios) o salário pago pela Administração a que ele
se opõe, classificando como “vergonha”,
“absurdo”, ou indagando “como um pai pode sustentar uma família
ganhando tão pouco?” e após eleitos, vêm com o argumento de que “a Prefeitura não pode aumentar o gasto com a
folha de pagamento, porque o Tribunal de Contas cobra um gasto menor” ou
outros similares.
Justificativa que, embora verdadeira, nunca é
falada durante a campanha, afinal se para quem entrou no cargo tal reajuste é
inviável, para quem estava antes dele (e por ele era criticado), também era.
A questão que me pergunto sobre os políticos que
agem assim é: estão sendo desonestos, criticando algo que eles sabem que não
poderão melhorar; ou ignorantes, desconhecendo a realidade do município e
acreditando que aumentar salário seja a coisa mais simples do mundo?
Seja como for, desonesto ou ignorante, quem
age assim não merece nosso voto.
E eu, sem querer me intrometer num assunto
tão complexo e já me intrometendo, pretendo propor uma discussão sobre a
questão salarial dos servidores municipais, sem resultados conclusivos ou
argumentos incontestáveis. Apenas meras divagações nunca antes faladas e que
talvez possa contribuir para elevar o nível do debate sobre esta questão na
eleição que se aproxima.
Abono
salarial.
Como é do conhecimento de todos, a Prefeitura
Municipal paga um valor de R$428,40 a título de “Abono salarial atividade” e
R$260,00 de “auxílio alimentação indenizado”, totalizando R$ 688,40. Valor algumas
vezes maior que o Salário Base, ou o salário “na carteira”, como é comumente
falado.
Um dinheiro muito bem vindo evidentemente,
mas que apenas escamoteia o problema da falta de reajuste salarial, que
constitucionalmente deve ser corrigido anualmente por índices oficiais de
inflação.
Dá-se ao servidor um abono como compensação
pelo não reajuste do seu salário, na ideia de que dinheiro é dinheiro não
importa como (se na forma de salário ou abono) sem se preocupar que tal abono
não seja incorporado ao salário do servidor, não entrar no cálculo de sua
aposentadoria e ainda, um benefício que, ao contrário do salário, pode ser
subtraído a qualquer momento.
Muito mal comparando, é um mau uso de um ótimo
benefício nos moldes que fez o Governo Federal com o Bolsa Família.
Sou contra o abono salarial? De forma alguma.
Defendo apenas que ele não pode substituir o
direito constitucional do reajuste salarial anual dos servidores.
E mais, defendo que o pagamento de abonos
seja realizado de maneira diferenciada e escalonada entre os servidores:
- 100% do valor deste abono pago aos servidores
que receberem até R$1.000,00 de salário base.
- 50% para os servidores que recebem entre
R$1.001,00 e R$1.500,00.
- 25% para os que recebem entre R$1.501,00 e
R$2.000,00.
Entendo que salários menores devem receber um
abono maior, para melhor distribuir a renda do município, e que é um desaforo
pagar abono salarial a servidores cujos vencimentos sejam superiores a
R$2.000,00.
Evidentemente que para estes abonos serem
assim distribuídos, faz-se necessário a extinção dos abonos autuais e a substituição
(por meio de lei criando novos abonos) determinando como critério de seu
recebimento, o salário base do servidor.
Distribuição
de portarias de Gerentes de Serviços para servidores.
Vejo uma total falta de critério na
distribuição das portarias de Gerente de Serviços para servidores municipais.
Alguns “ungidos” estrategicamente com tais
portarias vêem seus vencimentos quase dobrar de valor enquanto uma legião de
excluídos observa seus salários serem corroídos pela inflação, que no Governo
Dilma Rousseff voltou a assombrar os brasileiros com índices há muito tempo não
vistos.
Os motivos que fazem com que uns ganhem e
outros não são meramente subjetivos, desprovidos de qualquer critério racional
objetivo sob o ponto de vista da impessoalidade - e quiçá da moralidade - que
deve nortear o serviço público.
Um moderno Plano de Carreira (falarei logo
adiante sobre) com promoções verticais e horizontais seria o mais justo. E
lógico.
Horas
extras.
Outra ferida que pouca gente se atreve a
mexer diz respeito às horas extras dos servidores.
Além do uso de critérios claros e objetivos
na escolha dos servidores que farão horas extras (à exemplo do que propus neste
espaço tempos atrás para os motoristas), defendo uma maior intervenção do
Departamento Pessoal (erroneamente ainda chamado de Recursos Humanos - RH) da
Administração Municipal no controle e acompanhamento das horas extras.
Para isso, deve haver uma interação entre
Diretorias e Sessões com o Departamento Pessoal da Prefeitura, que deverá atuar
como uma espécie de agência reguladora de horas extras, fiscalizando: a
necessidade, o efetivo (real) cumprimento e a garantia de que outros servidores
da mesma função também tenham acesso ao cumprimento de tais horas, etc...
Enxugamento
da máquina pública.
Uma auditoria interna para saber onde há
carência e onde há excesso de servidores municipais.
Identificar as áreas onde possam existir
vários servidores realizando tarefas que um número menor poderia perfeitamente
realizar; e também o contrário, onde poucos servidores se sobrecarregam para
desempenhar suas funções.
Uma vez realizada esta auditoria, ir pouco a
pouco readequando áreas, realocando e contratando servidores de maneira
pontual.
Inclusive com a total automação dos registro
de ponto da Prefeitura, com leitura biométrica de controle do ponto em todas as
unidades da Administração Municipal.
Reestruturação
do Plano de Carreira.
Um estudo complexo, nunca antes feito em
nossa cidade, para modernizar o Plano de Carreira dos Servidores Municipais.
Com promoções verticais e horizontais,
readequação de empregos e vencimentos.
Alterar referências (há muito
desatualizadas), atribuir novas funções à antigos cargos, renomear cargos,
etc...
Tornar o serviço púbico, de fato, uma
carreira, onde independente de quem seja o Prefeito, o servidor possa galgar os
degraus e crescer na sua profissão.
Redução
de alguns salários.
Até admito que seja uma economia simbólica,
mas a título de mostrar aos demais servidores e à população ipuanense que o
Administrador, “cortando na própria carne”, compartilha com a sociedade as
dificuldades de cumprir com a folha de pagamento e muitas vezes a
impossibilidade de conferir aos servidores municipais o salário merecido e
sonhado.
O que cortar?
- 50% do salário do Prefeito.
- 100% do salário do vice Prefeito (defendo a
ideia que vice não deve ter salário, exceto os casos de substituição esporádica
do Prefeito - recebendo os “dias trabalhados” em que ocupou o cargo de Prefeito
em exercício).
- Transformar as Secretarias da Saúde e de
Negócios Jurídicos (R$6.000,00 mensais cada uma) em Departamentos (como era
antes e cujos salários são quase a metade do salário de um Secretário).
Salário
docente.
E não poderia deixar de falar sobre salários
sem mencionar o salário docente.
Faz-se necessária uma urgente mudança nos
vencimentos dos docentes municipais, também com uma reestruturação no plano de
carreira dos professores.
Não apenas no valor da hora/aula, mas em
generosos aumentos salariais para casos de capacitação docente: participação em
cursos oferecidos pelo Departamento, conclusão de especializações, mestrado e
doutorado.
Mas um aumento que seja interessante
financeiramente para o docente animar em cursar, sobretudo o mestrado, haja
visto que o elevado custo e a dificuldade para cursá-lo são desanimadores
quando comparados aos ganhos salariais modestos que tal curso trará ao docente.
É necessário que não apenas o tempo de
serviço, mas a qualificação, seja critério usado para o reajuste salarial
docente.
Aliás, entendo ser a qualificação docente, o
critério mais justo e de melhores resultados para atrelar salário à qualidade
do ensino.
Por ser uma área que conta com verba
específica (“carimbada”) a Educação dispõe de recursos para remunerar bem o
corpo docente, o que entristece é saber que nem sempre é feito para não causar
ciumeira (vê se pode?!) nos demais servidores, não agraciados com verbas
específicas e portanto, alijados do reajuste.
Recordo que quando Diretor do Departamento,
em um dos muitos reajustes que conferimos aos Professores (quase dobramos o
valor da hora aula) ouvi de uma servidora que não era docente que achava um
absurdo tal reajuste apenas para os professores e que se não fosse para dar pra
todos, que não desse para ninguém.
No que respondi prontamente: “quer ganhar o
mesmo reajuste? Faça alguma licenciatura, preste concurso para professora e vá
para a sala de aula”.
Concluindo.
Como disse, estas são apenas algumas
reflexões que não têm a finalidade de encerrar a questão sobre salários dos
servidores municipais, muito pelo contrário, gostaria mais é que se iniciasse
uma discussão sobre o tema neste ano eleitoral, e quem sabe a maturidade dos
eleitores de Ipuã não fomente esta discussão e cobre dos candidatos propostas
coerentes.
Ou vamos continuar aceitando o discurso raso
de “quero valorizar o servidor”, “vou melhorar o salário”, ...?
Quando pedirem seu voto prometendo assim,
pergunte “como?”, “quando?” e “quanto?”
Vamos ver se eles têm coragem de se
comprometer.
*Orandes Rocha já trabalhou de graça, já
ganhou pouco e já recebeu mais do que gastava.
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