segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Este mês em "A Voz Ipuanese".

Mudanças na estruturas.
Por Orandes Rocha*.

Após 20 anos analisando campanhas eleitorais em nossa cidade, algumas vezes como curioso, outras com rigor científico, comecei a entender melhor muita coisa.
Percebo que em via de regra, nunca houve na história de nossa cidade um candidato a Prefeito que propusesse mudanças estruturais.
O que se vê a cada campanha eleitoral é um reducionismo nas propostas (promessas?) dos nossos candidatos, oferecendo aos eleitores números e metas, sem jamais mudar a estrutura.
E então promete-se reformas de escolas, aquisição de materiais didáticos, construção de salas e creches sem no entanto, sequer falar na questão curricular da Educação de nossa cidade: o que fazer para evitar mudanças frequentes de apostilas, reestruturação da grade curricular no município, alterações na avaliação escolar, criação de avaliação em larga escala, etc...
Falam em contratar médicos, comprar remédios, construir e reformar PAS mas não falam palavra sobre uma reestruturação na saúde, sobre a construção de um centro odontológico, sobre a otimização dos espaços de atendimento à saúde, sobre como fazer para contratar médicos.
É uma infinidade de temas, repito, de caráter estrutural, que nunca foi abordado por nenhum candidato, seja por desconhecimento, seja por falta de interesse, ambos os casos, preocupantes.
Quando não, fazem promessas genéricas que nada explicam aos eleitores, deixando na subjetividade de cada eleitor, algo que deveria ser objetivo e racional.
Prometem coisas do tipo “melhorar a saúde”, “melhorar a educação”, “promover cultura no município”, “incentivar o esporte”,...
Caríssimo eleitor, desculpe a minha franqueza, mas promessas deste tipo é para enganar trouxa.
Qual candidato não quer melhorar a saúde e a educação? Qual não quer incrementar a cultura e o esporte?
Todos eles, evidentemente.
A questão é que ao usar qualquer verbo (Incentivar, apoiar, incrementar, melhorar,...) antes da promessa genérica, o que o candidato quer na verdade é que você acredite nele, e depois de eleito, qualquer ação que ele fizer, mesmo que a simples construção de um campo de futebol de várzea, dará a ele o direito de te dizer: “Eu cumpri o que prometi, investi em esporte”.
E terá sido verdade? Mentira? Ou uma meia verdade?
O que devemos cobrar de nossos candidatos neste ano são propostas mais profundas dos temas de verdadeira importância.
A construção de um campo é investimento em esporte? Isso basta para dizer que há uma política esportiva na cidade? Quem vai cuidar deste campo? Haverá fomento à competição? Haverá escolinha de futebol neste campo? Este campo foi construído em local onde havia a demanda pela prática de futebol? Outros esportes não deveriam ter sido contemplados com obras e atividades?
Essas e outras perguntas quase nunca são feitas pelos eleitores e nunca são oferecidas pelos candidatos.
Sabe por que? Por que não é interessante, porque é muito mais prático construir, reformar, ampliar para poder colocar em revistinha de prestação de contas ou no telão da campanha.
E que fique bem claro, estou generalizando e não especificando tal atitude a este ou aquele candidato, desta ou de administrações anteriores.
O que escrevo aqui é quase um desabafo de alguém que não aguenta mais as mesmice de promessas de todos os candidatos em todas eleições.
Todos!
Sempre imaginei que os candidatos evitavam tais questões para não ser mal entendidos ou ter suas palavras distorcidas durante a campanha e, assim, fazendo uma eleição sem sustos, ao eleger-se, colocaria em prática estas mudanças (muitas vezes impopulares) e faria um Governo de transformação.
Ledo engano.
O conservadorismo parece ser um vírus inoculado em todos aqueles que se dispuseram a disputar a cadeira de Prefeito em nossa cidade, ou então deve ser pré requisito para os partidos indicarem seus candidatos.
Obviamente que ninguém é obrigado a querer mudar estruturas de décadas, mesmo que estas estejam visivelmente atravancando a qualidade do serviço público oferecido, mas são obrigados a falar então sobre isso aos eleitores.
Para não parecer hipocrisia: prometem mais médicos, depois de eleitos reclamam que é muito difícil contratar médicos; prometem Expuã suntuosa, depois de eleitos reclamam da crise econômica; criticam os baixos salários que a Prefeitura paga aos servidores, depois de eleitos dizem que não podem aumentá-los por causa do Tribunal de Contas do Estado e a lei que não permite gastos acima de 54% do orçamento com folha salarial.
Sonho com um dia em que um candidato dirá coisas do tipo:

- “Não é fácil trazer médicos para Ipuã em razão dos baixos salários, das condições de trabalho modestas e por ser cidade pequena, de poucas oportunidades profissionais, fatores que pesam na hora dos profissionais e suas famílias escolherem o local de trabalho, por isso entendo que o atual Prefeito tenha tido dificuldades na contratação de médicos, o que justifica a pouca oferta de consultas e exames. Se eleito, eu gostaria de modificar esta realidade da seguinte forma: vou fazer...”.
Ou então:
- “A Expuã é uma festa financiada 90% com dinheiro público. Talvez seja a única festa da região a ter tamanho investimento público. Soma-se ao fato, a questão de, sendo beneficente, não temos como explorar muito a arrecadação com aluguel de barracas e estacionamento, fontes de receita que estão, com justiça, sob a responsabilidade das importantes obras assistenciais do município. Portanto não esperem grandes shows todos os anos. Na medida em que forem sanados os problemas financeiros, podemos eventualmente um ano ou outro, trazer shows melhores, mesmo que sob o risco de um pequeno aumento na bilheteria”.
Ou ainda...
- “Ipuã tem uma folha de pagamento inchada. Boa parte em razão da ampliação dos serviços, mas há que se levar em conta também que muitas vezes há 2 ou 3 servidores executando uma tarefa que bem poderia ser feita por 1 só.
Há também muitos chefes, ou pseudo chefes, pouco producentes. Mexer na folha salarial não é fácil, vou cortar a própria carne, começando pelo meu próprio salário que reduzirei pela metade, e ainda ...”

Sei não... acho que estou sonhando demais.
Seja como for, a partir do mês que vem vou escrever artigos neste espaço com proposições para nossos candidatos a Prefeito refletir e, quem sabe, até adotar em suas campanhas.
Em todas as áreas: Esporte, Cultura, Administração, Infraestrutura, Saúde e, é claro, Educação, a área que a gente melhor entende e gosta de dar palpite.

*Orandes Rocha tem muitas idéias, que enquanto ele próprio não as coloca em prática, vai dando “parpite” aqui neste espaço, vai que alguém lê e gosta.

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