Mudanças na estruturas.
Por
Orandes Rocha*.
Após
20 anos analisando campanhas eleitorais em nossa cidade, algumas vezes como
curioso, outras com rigor científico, comecei a entender melhor muita coisa.
Percebo
que em via de regra, nunca houve na história de nossa cidade um candidato a
Prefeito que propusesse mudanças estruturais.
O
que se vê a cada campanha eleitoral é um reducionismo nas propostas
(promessas?) dos nossos candidatos, oferecendo aos eleitores números e metas,
sem jamais mudar a estrutura.
E
então promete-se reformas de escolas, aquisição de materiais didáticos,
construção de salas e creches sem no entanto, sequer falar na questão
curricular da Educação de nossa cidade: o que fazer para evitar mudanças frequentes
de apostilas, reestruturação da grade curricular no município, alterações na
avaliação escolar, criação de avaliação em larga escala, etc...
Falam
em contratar médicos, comprar remédios, construir e reformar PAS mas não falam
palavra sobre uma reestruturação na saúde, sobre a construção de um centro
odontológico, sobre a otimização dos espaços de atendimento à saúde, sobre como
fazer para contratar médicos.
É
uma infinidade de temas, repito, de caráter estrutural, que nunca foi abordado
por nenhum candidato, seja por desconhecimento, seja por falta de interesse,
ambos os casos, preocupantes.
Quando
não, fazem promessas genéricas que nada explicam aos eleitores, deixando na
subjetividade de cada eleitor, algo que deveria ser objetivo e racional.
Prometem
coisas do tipo “melhorar a saúde”, “melhorar a educação”, “promover cultura no
município”, “incentivar o esporte”,...
Caríssimo
eleitor, desculpe a minha franqueza, mas promessas deste tipo é para enganar
trouxa.
Qual
candidato não quer melhorar a saúde e a educação? Qual não quer incrementar a
cultura e o esporte?
Todos
eles, evidentemente.
A
questão é que ao usar qualquer verbo (Incentivar, apoiar, incrementar,
melhorar,...) antes da promessa genérica, o que o candidato quer na verdade é
que você acredite nele, e depois de eleito, qualquer ação que ele fizer, mesmo
que a simples construção de um campo de futebol de várzea, dará a ele o direito
de te dizer: “Eu cumpri o que prometi, investi em esporte”.
E
terá sido verdade? Mentira? Ou uma meia verdade?
O
que devemos cobrar de nossos candidatos neste ano são propostas mais profundas
dos temas de verdadeira importância.
A
construção de um campo é investimento em esporte? Isso basta para dizer que há
uma política esportiva na cidade? Quem vai cuidar deste campo? Haverá fomento à
competição? Haverá escolinha de futebol neste campo? Este campo foi construído
em local onde havia a demanda pela prática de futebol? Outros esportes não
deveriam ter sido contemplados com obras e atividades?
Essas
e outras perguntas quase nunca são feitas pelos eleitores e nunca são
oferecidas pelos candidatos.
Sabe
por que? Por que não é interessante, porque é muito mais prático construir,
reformar, ampliar para poder colocar em revistinha de prestação de contas ou no
telão da campanha.
E
que fique bem claro, estou generalizando e não especificando tal atitude a este
ou aquele candidato, desta ou de administrações anteriores.
O
que escrevo aqui é quase um desabafo de alguém que não aguenta mais as mesmice
de promessas de todos os candidatos em todas eleições.
Todos!
Sempre
imaginei que os candidatos evitavam tais questões para não ser mal entendidos
ou ter suas palavras distorcidas durante a campanha e, assim, fazendo uma
eleição sem sustos, ao eleger-se, colocaria em prática estas mudanças (muitas
vezes impopulares) e faria um Governo de transformação.
Ledo
engano.
O
conservadorismo parece ser um vírus inoculado em todos aqueles que se
dispuseram a disputar a cadeira de Prefeito em nossa cidade, ou então deve ser pré
requisito para os partidos indicarem seus candidatos.
Obviamente
que ninguém é obrigado a querer mudar estruturas de décadas, mesmo que estas
estejam visivelmente atravancando a qualidade do serviço público oferecido, mas
são obrigados a falar então sobre isso aos eleitores.
Para
não parecer hipocrisia: prometem mais médicos, depois de eleitos reclamam que é
muito difícil contratar médicos; prometem Expuã suntuosa, depois de eleitos
reclamam da crise econômica; criticam os baixos salários que a Prefeitura paga
aos servidores, depois de eleitos dizem que não podem aumentá-los por causa do
Tribunal de Contas do Estado e a lei que não permite gastos acima de 54% do
orçamento com folha salarial.
Sonho
com um dia em que um candidato dirá coisas do tipo:
- “Não é fácil trazer médicos para Ipuã em
razão dos baixos salários, das condições de trabalho modestas e por ser cidade
pequena, de poucas oportunidades profissionais, fatores que pesam na hora dos
profissionais e suas famílias escolherem o local de trabalho, por isso entendo
que o atual Prefeito tenha tido dificuldades na contratação de médicos, o que
justifica a pouca oferta de consultas e exames. Se eleito, eu gostaria de
modificar esta realidade da seguinte forma: vou fazer...”.
Ou
então:
- “A Expuã é uma festa financiada 90% com
dinheiro público. Talvez seja a única festa da região a ter tamanho
investimento público. Soma-se ao fato, a questão de, sendo beneficente, não
temos como explorar muito a arrecadação com aluguel de barracas e
estacionamento, fontes de receita que estão, com justiça, sob a
responsabilidade das importantes obras assistenciais do município. Portanto não
esperem grandes shows todos os anos. Na medida em que forem sanados os
problemas financeiros, podemos eventualmente um ano ou outro, trazer shows
melhores, mesmo que sob o risco de um pequeno aumento na bilheteria”.
Ou
ainda...
- “Ipuã tem uma folha de pagamento inchada.
Boa parte em razão da ampliação dos serviços, mas há que se levar em conta
também que muitas vezes há 2 ou 3 servidores executando uma tarefa que bem
poderia ser feita por 1 só.
Há também muitos chefes, ou pseudo
chefes, pouco producentes. Mexer na folha salarial não é fácil, vou cortar a própria
carne, começando pelo meu próprio salário que reduzirei pela metade, e ainda ...”
Sei
não... acho que estou sonhando demais.
Seja
como for, a partir do mês que vem vou escrever artigos neste espaço com
proposições para nossos candidatos a Prefeito refletir e, quem sabe, até adotar
em suas campanhas.
Em
todas as áreas: Esporte, Cultura, Administração, Infraestrutura, Saúde e, é
claro, Educação, a área que a gente melhor entende e gosta de dar palpite.
*Orandes
Rocha tem muitas idéias, que enquanto ele próprio não as coloca em prática, vai
dando “parpite” aqui neste espaço, vai que alguém lê e gosta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário