Uma experiência de sucesso e que até hoje me orgulho de tê-la empreendido, sendo considerada por mim uma das mais importantes realizações que fizemos ao longo dos 3 anos e 3 meses de nossa gestão.
Nos Palanques da Vida!
Um
dos compromissos da campanha do Itamar em 2004, foi a criação de salas
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Ipuã e no Bairro da
Capelinha.
E coube a mim, a responsabilidade de instituir um programa e alfabetização de adultos que fosse realmente funcional.
Inicialmente, tentei fazer contato com MEC e trazer para a cidade o programa “Brasil Alfabetizado”.
Decepção!
Era extremamente burocrático e a verba destinada era irrisória, se comparada aos nossos anseios por uma Educação de qualidade.
Após explicar ao Prefeito tais dificuldades, ele resolver fazer “na raça”, com recursos e gestão próprios.
Mas como não cair no mesmo erro que nossos antecessores e suas experiências mal sucedidas?
Um dos problemas que identificamos foi a duração do tempo das aulas.
Alunos
do EJA, em sua grande maioria, trabalham durante o dia, e ficar
acordado e atento à noite durante 4 horas (das 19:00 às 23:00) é
humanamente impossível. E essa era uma das causas da grande evasão de
alunos.
Outro fator de evasão identificado foi a localização geográfica das salas.
Sabe-se
lá por qual motivo, a única sala de EJA que funcionou durante a
administração anterior à nossa, funcionava na Escola Profissionalizante.
Fazendo
portanto com que alunos de bairros distantes, não se animassem em
enfrentar transporte escolar (nos bairros que eram contemplados), pior
ainda para os que iam a pé para estudar. Isso fazia com que o cansaço
vencesse a força de vontade.
E um terceiro motivo levantado como causa de evasão, e que resolvemos, dizia respeito as aulas.
Geralmente aulas de EJA são baseadas na alfabetização de crianças, o que difere em muito da alfabetização de adultos.
Além disso, era tudo misturado na mesma sala de aula, alunos com razoável leitura e escrita, com alunos completamente iletrados.
Procuramos
separar as turmas: Sala de alfabetização (1ª e 2ª séries) e salas de
aceleração para aqueles com razoável compreensão (3ª e 4ª séries).
Tratar
os adultos como adultos, parece ser óbvio, mas muitas vezes se incorre
no erro de achar que porque não sabem ler, não são inteligentes e
maduros.
Para
isso, selecionamos a dedo as pessoas para ministrarem estas aulas,
pessoas que partiam do princípio de que ensinar a ler é antes de tudo,
dar cidadania a estas pessoas.
Pessoas
que tinham uma mesma história de vida: tiveram de parar de estudar
muito cedo para trabalhar e ajudar no sustento da família e que por
força do destino, resolveram recuperar o tempo perdido na fase adulta
(alguns até na 3ª idade), e tiveram, no nosso governo, respaldo do poder
público para ajudá-los nessa empreitada.
Dessa
forma abrimos no 1º ano de governo nada menos que 6 salas: 2 na escola
Profissionalizante (para os alunos do alto da cidade e centro), 1 na
Escola Monir Neder (para alunos das Cohabs I e II) e 3 salas de aula na
Capelinha (o que revela o tamanho da necessidade daquele bairro, sempre
esquecido).
Todos com apoio escolar total: uniforme, mochila (nos anos seguintes), merenda, material didático,...
Minha
alegria aumentou com o passar dos anos, quando vi que o número de
alunos diminuía, apesar dos nossos investimentos: sinal que cada vez
mais, tínhamos menos pessoas com pouca ou nenhuma alfabetização na
cidade.
Mas
minha maior satisfação, foi o testemunho de um senhor que disse que
durante anos a fio ele ia ao Banco receber sua aposentadoria e o caixa
do banco sempre lhe dava a “carimbeira” para ele “assinar” nome com o polegar, com sua digital.
Até
quem um dia, ele se vestiu melhor que de costume, foi ao banco repetir
sua rotina mensal e ao receber do caixa a carimbeira, ele disse com
orgulho:
- Hoje não! De hoje em diante, eu vou assinar meu nome.
Foi com imensa alegria que o caixa lhe deu uma caneta e os demais da fila um sorriso. Alguns até aplaudiram.
Me
emociono muito toda vez que conto essa história, pois ela reflete o
quanto a dignidade de uma pessoa é tolhida, quando se priva o cidadão do
direito básico de decodificar um código escrito, coisa tão natural para
vocês que me leem agora como respirar, mas que para 10% da população
deste país, ainda é um enigma e motivo de exclusão.
Mais
que qualquer obra que o Prefeito Itamar tenha feito na Educação (e
felizmente foram várias e pude participar de muitas delas), seu maior
legado para mim, sempre será a adoção de um EJA eficiente e que pagou
parte de uma dívida social que há décadas a classe política tinha com a
população ipuanense.
Sou
extremamente grato por ter feito parte desse projeto e mais ainda, por
ter sido (sem falsa modéstia) seu idealizador e realizador.
Mas
não bastava apenas alfabetizar adultos, era preciso “fechar a torneira
do analfabetismo”, e impedir que crianças fossem promovidas às séries
seguintes sem a devida alfabetização.
Mas essa é outra história...
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