sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Nos Palanques da Vida! [Há 10 anos] (EJA)

Há 10 anos atrás, em mais um capítulo da série "Nos palanques da vida" eu falava sobre a reestruturação da EJA, promovida pela nossa gestão à frente da Educação Ipuanense.

Uma experiência  de sucesso e que até hoje me orgulho de tê-la empreendido, sendo considerada por mim uma das mais importantes realizações que fizemos ao longo dos 3 anos e 3 meses de nossa gestão.

Nos Palanques da Vida!


Um dos compromissos da campanha do Itamar em 2004, foi a criação de salas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Ipuã e no Bairro da Capelinha.

E coube a mim, a responsabilidade de instituir um programa e alfabetização de adultos que fosse realmente funcional.

Inicialmente, tentei fazer contato com  MEC e trazer para a cidade o programa “Brasil Alfabetizado”.

Decepção!

Era extremamente burocrático e a verba destinada era irrisória, se comparada aos nossos anseios por uma Educação de qualidade.

Após explicar ao Prefeito tais dificuldades, ele resolver fazer “na raça”, com recursos e gestão próprios.

Mas como não cair no mesmo erro que nossos antecessores e suas experiências mal sucedidas?

Um dos problemas que identificamos foi a duração do tempo das aulas.

Alunos do EJA, em sua grande maioria, trabalham durante o dia, e ficar acordado e atento à noite durante 4 horas (das 19:00 às 23:00) é humanamente impossível. E essa era uma das causas da grande evasão de alunos.

Outro fator de evasão identificado foi a localização geográfica das salas.

Sabe-se lá por qual motivo, a única sala de EJA que funcionou durante a administração anterior à nossa, funcionava na Escola Profissionalizante.

Fazendo portanto com que alunos de bairros distantes, não se animassem em enfrentar transporte escolar (nos bairros que eram contemplados), pior ainda para os que iam a pé para estudar. Isso fazia com que o cansaço vencesse a força de vontade.

E um terceiro motivo levantado como causa de evasão, e que resolvemos, dizia respeito as aulas.

Geralmente aulas de EJA são baseadas na alfabetização de crianças, o que difere em muito da alfabetização de adultos.

Além disso, era tudo misturado na mesma sala de aula, alunos com razoável leitura e escrita, com alunos completamente iletrados.

Procuramos separar as turmas: Sala de alfabetização (1ª e 2ª séries) e salas de aceleração para aqueles com razoável compreensão (3ª e 4ª séries).

Tratar os adultos como adultos, parece ser óbvio, mas muitas vezes se incorre no erro de achar que porque não sabem ler, não são inteligentes e maduros.

Para isso, selecionamos a dedo as pessoas para ministrarem estas aulas, pessoas que partiam do princípio de que ensinar a ler é antes de tudo, dar cidadania a estas pessoas.

Pessoas que tinham uma mesma história de vida: tiveram de parar de estudar muito cedo para trabalhar e ajudar no sustento da família e que por força do destino, resolveram recuperar o tempo perdido na fase adulta (alguns até na 3ª idade), e tiveram, no nosso governo, respaldo do poder público para ajudá-los nessa empreitada.

Dessa forma abrimos no 1º ano de governo nada menos que 6 salas: 2 na escola Profissionalizante (para os alunos do alto da cidade e centro), 1 na Escola Monir Neder (para alunos das Cohabs I e II) e 3 salas de aula na Capelinha (o que revela o tamanho da necessidade daquele bairro, sempre esquecido).

Todos com apoio escolar total: uniforme, mochila (nos anos seguintes), merenda, material didático,...

Minha alegria aumentou com o passar dos anos, quando vi que o número de alunos diminuía, apesar dos nossos investimentos: sinal que cada vez mais, tínhamos menos pessoas com pouca ou nenhuma alfabetização na cidade.

Mas minha maior satisfação, foi o testemunho de um senhor que disse que durante anos a fio ele ia ao Banco receber sua aposentadoria e o caixa do banco sempre lhe dava a “carimbeira” para ele “assinar”  nome com o polegar, com sua digital.

Até quem um dia, ele se vestiu melhor que de costume, foi ao banco repetir sua rotina mensal e ao receber do caixa a carimbeira, ele disse com orgulho:
- Hoje não! De hoje em diante, eu vou assinar meu nome.

Foi com imensa alegria que o caixa lhe deu uma caneta e os demais da fila um sorriso. Alguns até aplaudiram.

Me emociono muito toda vez que conto essa história, pois ela reflete o quanto a dignidade de uma pessoa é tolhida, quando se priva o cidadão do direito básico de decodificar um código escrito, coisa tão natural para vocês que me leem agora como respirar, mas que para 10% da população deste país, ainda é um enigma e motivo de exclusão.

Mais que qualquer obra que o Prefeito Itamar tenha feito na Educação (e felizmente foram várias e pude participar de muitas delas), seu maior legado para mim, sempre será a adoção de um EJA eficiente e que pagou parte de uma dívida social que há décadas a classe política tinha com a população ipuanense.

Sou extremamente grato por ter feito parte desse projeto e mais ainda, por ter sido (sem falsa modéstia) seu idealizador e realizador.

Mas não bastava apenas alfabetizar adultos, era preciso “fechar a torneira do analfabetismo”, e impedir que crianças fossem promovidas às séries seguintes sem a devida alfabetização.

Mas essa é outra história...

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