Desde então tenho permanecido fiel à minha convicção da estreita relação das escolas com o crime organizado.
Era uma vez, um sonho.
Admito que já fui viciado em desfiles de Escola de Samba, a ponto de não sair de casa para assistí-los. Era, inclusive, de acompanhar apuração.
Confesso
que já tive vontade de desfilar em Escola de Samba (ainda que não saiba
sambar), chegando quase às vias de fato.
Queria
desfilar pela Mangueira (antiga escola do coração), mesmo que tal ato
gerasse ilimitados trocadilhos, feitos por amigos em mesas de bar.
Gosto de sambas-enredo, sobretudo quando posso usá-los em sala de aula para ilustrar a matéria.
Mas esse ano passado, toda essa paixão sucumbiu a um fato abominável.
Claro
que conheço as estreitas ligações das Escolas de Samba e o jogo do
bicho, como também sei que as chamadas "comunidades", são mantidas com
dinheiro desse comércio ilegal e infelizmente, ainda praticado não só no
RJ, mas no país afora.
Sei mais ainda.
Sei
que no RJ, a relação entre bicheiros e traficantes são por demais
camaradas, a ponto de ser cada vez mais difícil a distinção entre eles.
Mas nada disso precisava ficar tão explícito.
Em
2008, quando Fernandinho Beira-Mar se casou, nada menos que a bateria
da Mangueira, foi a responsável por animar a festa. Mesmo com a evidente
ausência do noivo.
Emoções conflitantes: já vibrei com o bi (86 e 87), sendo o samba de 86 um dos mais imortais da história ("tem chim chim e acarajé, tamborim e samba no pé"),
acompanhei momentos de pura apoteose da verde e rosa, em sambas
homenageando Doces Bárbaros (Caetano, Gil, Gal e Betânia), Tom Jobim e
Chico Buarque.
De
outras escolas, não dá para esquecer os sambas inesquecíveis da
Mocidade (sonhar não custa nada, chuê chuá e o jogo), da Viradouro, a
paradinha funk de 97 (que tanta controvérsia deu na época), da
Beija-Flor, seu eternor "ratos e urubus, rasguem minha fantasia", de
mestre Joãosinho Trinta.
E tantos outros...
Mas agora, tudo virou pó, com a fatídica homenagem da minha Estação Primeira ao principal criminoso brasileiro.
Talvez
hoje, os já homenageados, Tom e Chico, refutasse a homenagem por eles
feita à escola, na bela canção: "Piano na Mangueira".
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