segunda-feira, 4 de maio de 2020

Gripe Espanhola e Covid 19: Semelhanças e diferenças.

Ao que parece, as epidemias de H1N1, SARS e MERS acontecidas no começo do século XXI foram equivocadamente comparadas à Gripe Espanhola.

A rival da Pandemia do começo do século XX que dizimou entre 50 e 100 milhões de vidas no mundo, é mesmo a Covid 19 (mas pode me chamar de Coronavírus).

Ressalto alguma curiosidades que podem aproximar ou afastar as duas pandemias:

1. O nome
"Gripe Espanhola" na verdade pode ter sido uma injustiça com a Espanha, pois não se conhece na verdade a origem do "paciente zero" daquela pandemia. Na verdade, a Espanha fora da Guerra foi a primeira a noticiar casos da doença, por isso ficou com a "pecha".

Diferente da "Gripe de Wuhan", primeiro nome da Covid 19 (Corona Virus Disease 19: em livre tradução, seria Doença do Corona Vírus e o número 19 refere-se ao ano de 2019), onde o pacientye zero foi identificado naquela cidade chinesa. A mudança do nome da doença foi justamente para tirar o rótulo que marcou outras epidemias.

2. Status de Pandemia.
O mundo estava em Guerra quando a Gripe espanhola assolou o planeta, por essa razão foi mais demorado decretar Pandemia.

Também os meios de comunicação eram menos eficientes comparados aos atuais.

A Covid 19 recebeu o status tão logo saiu da China e alastrou por outros continentes.

3. Mortes
Gripe Espanhola matou algo em torno de 50 a 100 milhões de pessoas (5% da população do planeta), mas os dados são imprecisos dado aos registros deficientes da época.

Para se ter ideia, a I Guerra Mundial, foi a causa da morte de 17 milhões de pessoas.

A taxa de mortalidade da Covid 19 ainda é um número em aberto mas já vitimou 250 mil pessoas no mundo.

4. Imprensa
Inicialmente, a imprensa não deu muita importÂncia para a doença. E após a disseminação no país, para não gerar pânico em Curitiba, jornais foram censurados, proibidos de dar a notícias sobre a Gripe Espanhola.

No Brasil atual, a imprensa livre cumpre seu papel, a despeito das críticas Presidenciais e de grande parte da população que, em redes sociais defendem notícias boas ao invés de apenas ruins.

5. Crise é oportunidade.
Jornais do RJ noticiavam uma grande procura nas farmácias por pacientes em busca de tratamento. Os poucos paliativos existentes na época chegaram a ter preços aumentado muitas vezes dada a elevada procura.

Com a Covid 19 álcool gel sumiu das prateleiras em um primeiro momento, para depois reaparecer com preço bem acima, o que foi imediatamente coibido pelas autoridades. Máscaras são vendidas nos mais diferentes lugares aos preços mais variados.

6. Uma "cura".
Na Gripe Espanhola, o "Quinino", remédio usado para a malária foi indicado para combater o vírus (mesmo que malária fosse causada por um protozoário) e não surtiu efeito algum. Também foram dados conselhos pela Diretoria de Saúde Pública para que no começo da enfermidade fosse feito um forte purgativo no paciente e alimentado com canja de galinha e solução com essência de canela.

Na Covid 19, a polêmica gira em torno da famigerada "Cloroquina", também usada para tratamento de Malária e ainda sem estudos conclusivos sobre sua eficácia. Além disso, receitas para "aumentar a imunidade" são defendidas por muitas pessoas. Vitamina C tem sido a mais recorrente.

7. Hospitais de campanha.
A improvisação de espaços públicos transformados em hospitais de campanha (termo militar usado para hospitais provisórios) aconteceu nas duas Pandemias.

8. Tragédias.
Com a Gripe Espanhola, no RJ, corpos foram transportados em bondes e os hospitais não tinham mais vagas após 2 meses da doença na cidade.

A Covid19 tem feito muitas cidades contratarem containers frigoríficos, enterros comunitários e muitas cidades anunciaram o colapso do seu sistema de saúde.

9. Na hora da morte.
Cemitérios específicos para as vítimas da Gripe Espanhola foram abertos em muitas cidades, a exemplo do que havia sido feito no surto de febre amarela anos antes da Pandemia. Em Ipuã, havia um antigo cemitéio na estrada que vai para a chácara Mandacaru.

Com a Covid 19, velórios têm seu tempo e pessoas reduzidos ao máximo, tudo para evitar contágio.

10. Sintomas.
Aparentemente a Gripe Espanhola era mais cruel com suas vítimas: hemorragias pelo nariz e ouvido, hemoptise (tosse com sangue) até provocar lesões toráxicas, falta de ar que dava à pele um tom azulado (a ponto de, na Guerra, corpos dos soldados vitimados pela doença, não serem distinguidos ser eram brancos ou negros).

A Covid 19 apresenta vários estados de sintomas, desde o assintomático até prejudicar mais de 50% do pulmão, causando incapacidade respiratória a ponto do paciente necessitar de entubação.

11. Quarentena.
Usada como medida profilática, a quarentena foi muito contestada durante da Gripe Espanhola. Seus críticos diziam que ela era anti natural e causava problemas políticos econômicos e sociais. Essa medida votaria a ser aplicada na segunda fase da doença no país quando percebeu-se que seu cancelamento gerou nova onde da doença, e passou o isolamento dos doentes então a ser defendido pelos médicos como primeira medida de higiene. (GOULART, 2005).

No Brasil da Covid 19 a mesma discussão tem pautado políticas públicas divergentes entre os Governos Federal e Estaduais, sobretudo pelos prejuízos econômicos que tal medida pode causar.

12. Pesquisa e ciência.
Tínhamos no Brasil, durante a Gripe Espanhola, pesquisadores como Carlos Chagas e ainda, os estudos de Osvaldo Cruz, falecido 1 ano antes da Pandemia mas cujo capital científico era de domínio público.

Hoje, muitas universidades públicas têm convergido esforços na busca por vacinas, remédios para minimizar os efeitos e medidas de profilaxia.

13. Presidência infectada.
O Presidente Rodrigues Alves, responsável por, em seu primeiro mandato (1902 - 1906) , livrar a capital do país (Rio de Janeiro) de epidemias como febre amarela, peste e varíola, foi novamente Presidente em 1908, porém, acometido pela Gripe Espanhola, não chegou a tomar posse, morrendo dessa enfermidade em 1919.

No Brasil, fortes indícios apontam para que o atual Presidente, Jair Bolsonaro, tenha contraído a Covid 19 e se curado dela. Tal suposição tem gerado um debate jurídico sobre a obrigatoriedade ou não do Presidente exibir o exame realizado duas vezes, o que ele tem se negado a fazê-lo.

Fontes:
https://www.radiovaledominho.com/pandemia-1918-toda-gente-estava-farta-sairam-rua-estragaram-tudo/?fbclid=IwAR2MohZsArOT5x2m5H8mFGrjLSpKjIoQZVvJuse8YRJbV7Q9IN5vFqg40IE

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/gripe-espanhola-historia.phtml

https://veja.abril.com.br/entretenimento/a-grande-gripe-narra-a-historia-da-maior-de-todas-as-pandemias/

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/i-guerra-mundial-gripe-espanhola-inimigos-visiveis-invisiveis.htm

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702005000100006

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