O 3º capítulo da saga sobre música sertaneja ia ao ar há 10 anos atrás.
Curiosidade: Inezita Barroso não foi vizinha de Mário de Andrade, mas uma tia dela, que ela visitava e sempre se encontrava com o escritor Modernista.
Música Caipira - Patriarcas*.
Você certamente não conhecerá a marioria das pessoas citadas.
Porém
do que você vai ler hoje, uma única coisa deve ficar: A Música
Sertaneja só existe, graças a estes artistas e tantos outros como eles.
João Pacífico:
Neto de escravos, filho de escrava alforriada, chegou a São Paulo no exato
dia que explodia a Revolução de 24. Nem tiros esmoreceu a vontade deste
jovem mulato de Cordeirópolis vencer na cidade grande.
Criador
da chamada "Toada-Histórica", aquelas músicas que começam com alguns
versos declamados, antecedendo a canção e a história a ser contada. Por
exemplo, que não conhece os versos que abrem "Cabocla Tereza" ("Lá, no arto da montanha numa casa bem estranha toda feita de sapê...")? pois é, essa música é de sua autoria, em parceria com Raul Torres, com que ainda comporia "Chico Mulato".
Não
cantava, apenas compunha, e a isso se credita o fato de não ter tido
uma melhor estabilidade financeira. Seus intérpretes mais corriqueiros
foram Raul Torres e Florêncio.
Raul Torres:
Figura destoante do típico caipira, Raul era o típico "caipira chique":
terno branco, chapéu panamá, lenço de seda no pescoço, anel de
diamante... De infância pobre em Botucatu, muda-se para São Paulo onde
foi carroceiro e mais tarde trabalha na Ferrovia Sorocabana até se
aposentar (o que lhe garantiu uma boa estabilidade e patrimônio).
Cantou
em circos e cabarés até chegar nas rádios da Capital (foi dos pioneiros
na Rádio Record), e foi no rádio que ele divulgou com maestria a música
caipira.
Fez dupla com Florêncio (violeiro que deixou de herança para Tião Carreiro, a Lendária Viola Vermelha).
Já
conhecido no meio, cantava em Cassinos Cariocas, para o reconhecimento e
admiração de artistas como Noel Rosa, Lamartine Babo, Francisco Alves e
Sílvio Caldas (os patriarcas da MPB).
Autor de "Cabocla Tereza", "Colcha de retalhos", "Boiada Cuiabana", entre outras.
Cornélio Pires:
Autor e produtor do 1° disco sertanejo raiz, pago do próprio bolso pois
as gravadoras não viam como negócio lucrativo. Após o sucesso de sua
primeira leva de discos, as gravadoras abrem espaço para a música
caipira.
É
portanto o desbravador da música sertaneja raiz. Embora tenha sido
cantor e poeta (letrista), foi como produtor e "agitador" cultural que
ele se destacou na música.
Tonico e Tinoco: "A Dupla Coração do Brasil" não ganhou esse epíteto à toa.
Trata-se
do primeiro grande fenômeno musical sertanejo de massa do país. Esta dupla
formada por 2 irmãos de origem pobre da região de São Miguel, foi
pioneira em tudo: primeira dupla sertaneja a se apresentar na TV,
primeira a gravar LP, a se apresentar no teatro Municipal de São Paulo e
no Maracanazinho.
Suas
mais de 1500 gravações, divididas em mais de 300 álbuns (78 rpm, LP,
CD,...) contam a trajetória dos seus 50 anos de carreira.
Carreira que só seria desfeita pela morte em 1994 de Tonico, deixando Tinoco, ainda em atividade.
Entre tantas canções: "Chico Mineiro", "Moreninha Linda", "Pé de Ipê", "Minas Gerais",...
Inezita Barroso:
Da classe média paulistana, na infância, foi vizinha de Mário de
Andrade (de quem se tonaria amiga mais tarde), formada em
Biblioteconomia na USP, representa a principal mulher no meio tão
machista como a música sertaneja.
Apresentadora
de programas na TV Cultura, ela assim como Rolando Boldrin, preserva o
que a música caipira tem de melhor, travando um embate ideológico contra
a mercantilização e os rumos musicias pelos quais caminham a moderna
música sertaneja.
Muita
gente boa ficou de fora, estes são apenas alguns dos principais nomes
que construíram as bases da nossa música caipira. Numa próxima
oportunidade, espero falar de gente como: Mário Zan (autor de Chalana),
Cascatinha e Inhana (a delicada música sertaneja deste casal), Jararaca e
Ratinho (Jararaca foi do bando de Lampião), Sulino e Marruero, Caçula e Mariano
(Tio e Pai do Caçulinha, do Domingão do Faustão), entre tantos...
*Fonte: "Música Caipira" de José Hamilton Ribeiro e "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" de Rosa Nepomuceno.
Próximo Domingo: Somos mais caipiras que pensamos.