Salve Vossa Majestade!
Música Caipira - Surge um Rei
A música sertaneja é monarquista, e por isso teve um Rei.
Vossa Majestade atendia pelo nome de José Dias Nunes, mais conhecido como Tião Carreiro.
Talvez o melhor expoente da moda de viola em nosso país.
Muitos o seguiu, poucos tiveram seu talento e carisma, nenhum terá tantos admiradores.
Tião
Carreiro está pra música sertaneja assim como Elvis para o Rock, e numa
comparação quase absurda: Tião Carreiro é o Jimmy Hendrix do Sertão.
Violeiro
primoroso, como só o Estado de Minas Gerais sabe presentear ao mundo,
criado na região de Araçatuba, seria mais um menino pobre, de vida
difícil nas lavouras e pastagens da região, não tivesse feito de sua
música, seu passaporte para o estrelato.
Após
saracutiar com várias duplas, firmou com Pardinho uma dupla à beira da
perfeição. Não fosse a conhecida "rusga" que vez em quando insistia em
separá-los, muito mais teriam dado ao mundo, além do muito que deixaram
como legado.
Cantaram
de costas um para o outro em várias oportunidades, gravavam músicas
separado, separaram várias vezes e em cada uma delas, Tião, segundo sua
esposa, chorava em casa a falta do amigo.
O violeiro tinha sentimentos.
Mas
seu gênio bonachão e folgazão, arquétipo do violeiro que canta por
prazer, não importa onde, como e com quem, nem em quais circunstâncias,
não combinaria com o pragmatismo de seu "segunda voz", mais comedido e
profissional.
Tião tinha carisma, não queria perder isso em troca de alguns tostões.
Verdade
é que se a potência vocal de Tião Carreiro é evidente, a base lhe dada
pela 2ª voz de Pardinho torna suas canções perfeitas, sob o ponto de
vista estético da moda caipira.
Eclético,
gostava de samba entre outros gêneros. E foi graças à sua falta de
preconceitos com os gêneros musicais (ainda que o inverso não seja
verdadeiro), quis misturar o sertanejo com o samba, criando uma nova
batida: O Pagode.
Variação
do recortado paulista, o pagode caiu nas graças dos seus súditos, que
não demoraram coroá-lo, por aclamação, Rei do Pagode.
Reconhecido
em vida pelos sertanejos, só em morte ganharia o respeito e admiração
dos "da cidade", e dos boyzinhos de faculdade que hoje tocam suas
músicas em seus sons monumentais para quem quiser ouvir, coisa que se
fosse feita há 10 anos, seriam chamados de capiau.
Tião Carreiro sobreviveu ao tempo, e o tempo lhe fez justiça.
Se
duvida do poder de influência deste artista, faça o seguinte teste: Se
você toca violão ou tem algum amigo que toque, peça para ele começar a
tocar e cantar a música "Amargurado" em qualquer lugar que esteja. Se
após o primeiro verso ("Do que é feito daqueles beijos que eu te dei?") todo mundo não começar a cantar junto, prometo que nunca mais falo sobre música sertaneja neste blog.
Continua no próximo domingo...
Próximo Domingo: Modas de Tião Carreiro e Pardinho
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